SURREALISMO

       Traços cinzas e triângulos vermelhos. Quadrados brancos e esferas multicoloridas. Pensamentos além das fronteiras socialmente compreensíveis. Criaturas sem máscaras, sem maquiagem. Seres humanos transando o real sentir das sensações proporcionadas pelo amor. Dois pontos pretos. Esboço de uma figura de mulher. Vermelho tinto, azul pálido. Mãos entrelaçadas. O tom amarelo forte. Contradição.
       Passos cautelosos, sombrios. Olhares fugazes, medrosos. Corpos transparentes, soltos. Emoções transcendendo o limiar do espaço. Palavras ferinas, sem maldade. Pedaço de pão jogado na calçada imunda. Andar trôpego, imaculado e pueril. Sorriso sardônico, agressivo. Tempo, sem data. Beleza vil, agreste. Vermelho e preto. Traço nítido, fraco. Rosto realçado, iluminado. Formas medonhas, dois travessões.
Cabelos soltos ao vento. Lábios sensuais, vermelhos. Sobrancelhas espessas, pretas.  Nariz a cheirar a brisa marítima. Busto arfando, impregnante Medo. Um  quadrado  sob um triângulo. Grito abafado, selvagem. Expressão incrédula, horrenda. Odor do fétido, podridão. Caminhar em nevoeiro, ratoeira. Prisão ilusória, promessas ridículas. Ponto de interrogação. Vírgula. Cruz em tom negro vivo.
        Sabor acre do doce amargo. Migalhas de algo espalhado na areia. Cinza pálido. Grãos no sapato. Faca cravada na carne. Ódio ameno, violento. Espancamento lírico. Trema. Diversões. Miado. Mingau. Azul-esverdeado. Ponto de exclamação. Sangramento pelos poros. Aplausos. Murmúrios medrosos, cenas teatrais. Dois pontos. Traço. Cinza.
        Vozes roucas, loucas. Gravador. Pavor. Ondas do mar estereotipadas, fingidas. Céu inimigo, combatendo seus astros. Clarão que ofusca, machuca. Criaturas belas, feias. Frases sem nexo, escondidas no silêncio da escuridão. Cor pálida, ladra. Tonalidade roxa, rosada. Alerta manso, estiolado. Cenas rasgadas, interrogativas. Sonho amarelo. Solidão corajosa. Dois pontos.
Política de sexos, gerando guerras tolas e imbecis. Cérebros ocos, rústicos. Pés que caminham temeroso Alaranjado queimado, corpóreo. Ouvidos surdos aos acontecimentos irreais. Continuação, sofridos. Cor negra. Cor cinza. Opressão nojenta, incompreensível. Alarde de meros fantoches. Chantagem. Carvão. Areia
         Móbile de latas esféricas. Losango pardo, chorando. Animal ferido, com fome. Dois pontos. Travessão. Ponto. Triângulo escaleno. Mediatriz traçada na esfera sem esperança. Formas de bicho- homem. Podridão.
        Assunto? Qualquer um. Político, apolítico. Moral, imoral. Amor, ódio. Sistema, não-sistema. Justiça, injustiça. Azul. Roxo. Tudo. Nada. Dois pontos. Arames a sufocarem o modo autêntico de pensar e de sentir. Condenação ao amor visto como “diferente”. Surrealismo. Idiotice. Triângulo amando triângulo. Espanto. Ideal tolhido, condenado. Interrogação. Ponto final.

Leila Cristina Carvalho


 
 
 
 

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