Tudo
começou no ano de 1980. João Paulo Siqueira, o Siqueira,
era um homem simples, com pequenas posses, mas que pensava alto. Morava
no interior de Minas, em um sítio no qual mal produzia para o seu
sustento, na pequena cidade de Bem-Me-Quer. Possuía dois filhos,
Pedro e Paulo que estudavam em Belo-Horizonte e viviam com muita dificuldade.
A esposa vivia doente, o que piorava mais a vida do Siqueira que
já se encontrava cansado e não estava mais vendo solução
para o seu caso. Começou a matutar e passado bastante tempo, ele
tomou uma decisão; vou fazer um pacto com o Demo.
Saiu a passear pensativo pelo sítio e sem que ninguém soubesse
foi até a uma pequena queda d´ água onde ele teria
mais condições de refletir sobre o seu intento.
Firmou o seu pensamento invocando a presença daquele que seria o
seu salvador. Neste momento surgiu à sua frente um indivíduo
alto, magro, com os cabelos enormes e sem pentear acompanhado de um cheiro
bastante característico de enxofre. João Paulo não
soube dizer donde surgiu aquele horrendo indivíduo, porém,
ele ali estava. Deu uma forte gargalhada e perguntou: o que é que
você deseja de mim? Estou aqui para servi-lo e vamos ao que interessa,
disse-lhe impaciente o Demo.
Estou com uma série de problemas, com meu sítio produzindo
tão pouco que mal dá para o nosso sustento, com minha mulher
que vive doente e não tenho mais condições de tratar
dela, com meus filhos que estão passando privações
em
seus estudos na Capital e não sei como resolver tudo isto. Por
essa razão, pedi a sua ajuda.
O Demo então pensou e disse: “Vou lhe ajudar. Resolverei todos os
seus problemas, mas isto terá um preço muito alto. Você
vai me pertencer e farei de você o que bem entender e a qualquer
tempo. Você aceita, João Paulo”? Então vamos selar
o nosso pacto com um aperto de mão. O fogo vai ser a testemunha.
Ao
apertar a mão do desconhecido, Siqueira sentiu que a sua mão
estava sendo queimada, porém, agüentou firme, para obter
uma nova vida. O estranho desapareceu de súbito e Siqueira ficou
preocupado com tanta novidade que lhe havia sido prometido.
Será que fiz a coisa certa? Não via outro caminho. Bem, vou
para casa aguardar os acontecimentos.
Ao chegar em casa, verificou que a sua esposa Maria nada mais tinha de
doença, estava muito bem.
Ela disse, que mesmo não sabendo como tudo aconteceu, os seus males
já não mais existiam. Estava disposta e já preparava
um jantar, pois havia encontrado, na soleira da porta, um saquinho cheio
de dinheiro, com o qual fez algumas compras na vila. Estava radiante. Ela
entregou o restante do dinheiro ao marido, que começou a sorrir
de alegria.
João foi para o seu quarto para se preparar para o banho. Quando
abriu o armário, encontrou uma maleta que não conhecia.
Ao abri-la deparou com uma quantidade enorme de dinheiro. Então,
voltou a pensar no seu amigo Demo.
Com esse dinheiro todo reformou a sua casa, comprou uma casa em Belo-Horizonte,
melhorou a vida dos filhos que lá estavam, abriu em um banco uma
caderneta de poupança para eles, comprou-lhes roupas novas, pagou-lhes
a escola, que já estava com as mensalidades atrasadas e tudo ficou
bem.
Desta forma, resolveu voltar para o seu sítio onde Maria o esperava.
A esposa continuava bem de saúde e fazendo o sítio progredir.
Todos os problemas do João, foram resolvidos. Então, ele
passou a se preocupar com o pacto que havia feito. Isto virou uma tormenta
para ele. Nada disse à Maria ou aos filhos.
Certa noite, quando estava sozinho na entrada da casa, recebeu uma visita,
que ele já esperava a qualquer momento.
Havia chegado a cobrança. O seu “amigo” o convidou para dar
uma volta e lhe comunicou que essa seria a última noite que ele
passaria no sítio.
João voltou para dentro de casa, pediu um café e nada mais
quis comer. Deu boa noite à Maria, colocou o seu pijama e se deitou,
para nunca mais acordar.
Maria
chegou, viu o João naquela condição e chamou o vizinho
do sítio ao lado, que acorreu imediatamente, porém, o fato
já estava consumado. Chamaram o único médico da vila
que veio de imediato. Atestou parada cardíaca e forneceu o atestado
de óbito.
Maria mandou avisar os filhos que chegaram no dia seguinte para o sepultamento.
No momento em que o caixão era colocado dentro da cova, todos
pararam para observar um personagem desconhecido e estranho que se encontrava
presente.
Todos olharam para aquele estranho, que disse: “João, foi muito
bom fazer negócios com você”. Deu uma grande gargalhada e
desapareceu como por encanto, deixando como rastro, o cheiro inconfundível
do enxofre. Ninguém soube explicar, até hoje.
Alberto Metello Neves