O PRAZER  DE  BILLY

        Julia trabalha numa loja no shopping da Barra. Uma tarde ela percebe que está  sendo observada pela vitrina. Era Billy, um homem moreno, bonito acompanhado discretamente por um segurança.  Elegante, ele acena com a cabeça e sai. Juliana fica olhando aquele homem se perder na multidão do shopping. Dá um sorriso e retorna a atenção a uma cliente.
        No outro sábado, lá estava o mesmo homem na vitrina olhando-a. Juliana estampa sua alegria no rosto, mas Billy não retribui aquele sorriso. Vai saindo sério; ela, sem entender aquela atitude, balança a cabeça e fica rindo sozinha. As colegas da loja perguntam o que acontecera, mas Juliana nada diz, desculpa-se dizendo que lembrara de algo engraçado.
        No próximo sábado, Juliana capricha na roupa a espera daquele homem, e ele não veio, mas na segunda feira, sem que Juliana esperasse, lá estava aquele homem observando-a, dessa vez dá um sorriso e vai embora. Poucos minutos depois entra um rapaz na loja, e entrega um simples papel com o número de um celular. Juliana fica feliz e torce para a hora do lanche chegar e correr ao telefone mais próximo para ligar. Quando consegue corre, feliz com a certeza de falar com aquele misterioso homem. Mas o celular estava desligado. Decepcionada Juliana retorna para a loja.
        Quando termina o expediente, ao chegar em casa ela liga. Do outro lado da linha a voz do homem misterioso responde num sorriso debochado que sabia que ela ligaria.
        Então começa o namoro. Billy informa a Juliana de sua vida, um rico empresário, dono de navios e que ela saísse da loja que ele daria tudo que ela desejasse.
        Juliana, apaixonada, fez tudo que Billy pediu, saiu da loja; ele oferecia tudo que ela precisava, presenteou-a com um carro lindíssimo, jóias, roupas etc. A alegria de Juliana, porém, era misturada com preocupação, pois o jeito carinhoso de Billy vinha às vezes com exigências meio absurdas; mas Juliana não queria perder essa oportunidade que a vida lhe dera, um homem rico e apaixonado. Ela sentia-se feliz.
        E foi marcada a data de casamento.Billy não permitiu festa, uma cerimônia simples numa igreja somente com a família. Foram morar numa mansão. Billy tratou de colocar professores de etiqueta e estilistas para cuidarem de Juliana.
        Nos primeiros dias de casamento, Juliana percebia os gestos elegantes e artificiais de Billy, o ciúme ia aumentando a cada dia. e Juliana começou a sentir-se oprimida. Da alegria passou a tristeza.Juliana queria ligar para seus pais, mas era sempre impedida pôr Billy, que ligava e dava notícias.
        Um dia, foram convidados para uma festa de um político famoso. Billy informou que Juliana deveria caprichar em suas roupas, chamando a secretária e governanta para orientá-la. Chegam na recepção, Juliana com um vestido azul e um decote deixando à mostra suas costas, provocava os olhares de todos. Mal chegaram, a timidez de Juliana era notada por todos, e seu olhar triste também. Depois de algum tempo sentada ao lado de Billy, ela fala baixinho que precisa ir ao banheiro; o marido pergunta se não poder esperar, ela insiste que não; vai, e quando retorna, Billy percebe que alguns homens a olham. Mal ela senta, Billy chama um de seus seguranças e manda levá-la pra casa.
        Juliana não suporta mais aquela situação, quando Billy chega, ela diz que quer ir embora, É aí que Billy começa a revelar uma personalidade estranha: ameaça que a mataria depois suicidaria se ela fosse embora. Juliana começa a ficar apavorada. Trama uma fuga. Mas percebe que é muito difícil, pois a mansão é totalmente vigiada.
        Numa noite, Juliana implora a Billy que a deixe ir. Ele a agride, ela sai do quarto gritando, Billy tenta se jogar das escadas da casa, agarrado com Juliana, mas ela consegue escapar e ele cai em cima de uma mesa sob as escadas.  Na queda, fraturou a coluna e estava condenado a uma cadeira de rodas pelo resto da vida.
        No hospital, Juliana vai visitar Billy, e lá é abordada pelos policias, pois Billy a acusa de ter empurrado-o das escadas. Juliana fica apavorada com aquela atitude, e sem saber como se defender oi indiciada por tentativa de assassinato. Juliana implora a Billy que fale a verdade, mas ele responde que jamais a deixará livre para trai-lo.
        No decorrer do processo, a influência de Billy, consegue indiciá-la. Mas, por ser ré primária, aguarda a audiência em liberdade. A vida de Juliana vira um inferno. Em um dos depoimentos, Juliana, chorando, implora que alguém precisava acreditar em sua inocência; mas o advogado de defesa não demonstra muita esperança na vitória daquele caso.
        Numa tarde, Juliana percebe que está sendo seguida, apressa o passo. Ao chegar no elevador, o homem a seguia, um policial, demonstra interesse no caso. Juliana relata toda sua trajetória de vida conjugal, ele acredita em sua inocência e sem muitas promessas diz que dará atenção especial aquele caso, pois havia algumas evidências a favor dela.
        Alguns dias depois, Juliana está em seu apartamento, com o policial, pois conversavam preocupados sobre o dia de julgamento que estava  se aproximando, quando ela recebe uma ligação de Billy. Ele sugere que ela volte pra ele, assim a situação dela mudaria. Juliana liga imediatamente o gravador do telefone, mas Billy, muito esperto, muda a argumentação do outro lado da linha, e diz cinicamente que poderia mentir para a justiça livrando-a da acusação da tentativa de assassinato. Juliana grita que ele é louco, pois ele sabe que ela era inocente. Billy então desliga o telefone.
        No dia seguinte Billy torna a ligar e pede a Juliana que o encontre com um gravador, pois tinha algo que a ajudará no julgamento. Ao desligar, Juliana tenta falar com o policial que já tornara seu amigo, mas o telefone dele estava fora de área. Juliana deixa o recado na secretária, pega o gravador e vai à mansão de Billy.
        Chegando lá, foi recebida pelo segurança que a leva até Billy. Do alto do penhasco, o mar batendo forte, Billy está olhando o mar, desliga o telefone celular. De roupão preto, parecia absorto no pensamento, Juliana vai se aproximando meio desconfiada. Nesse momento Billy acena sem olhar para o segurança ir embora. Juliana sente piedade daquele homem que um dia foi seu grande amor e se tornara seu inimigo. Ela fica olhando-o, de longe, parada. Ele sem se virar para ela diz que a ama muito, que o pior do acidente é que não poderia mais fazer amor com ela como nos tempos de casado. Pede então a Juliana que se aproxime. Nesse momento uma revoada de pássaros assustados fogem das árvores do alto da montanha ao lado, e que ela ligue o gravador. Juliana obedece e se aproxima de Billy. O vento forte desalinha os cabelos de Juliana, naquela tarde de inverno Ela vai se aproximando, Billy abaixa a voz, forçando que Juliana se aproxime mais. Na angústia da situação, Juliana diz que tinha certeza que o amor que os uniu não permitiria que ele a condenasse à prisão, no fundo ela sempre confiou que ele falaria a verdade. Nesse momento Billy pede um beijo a Juliana, ela se aproxima lentamente dele, fecha os olhos, na mão o gravador a outra segurando a cadeira de rodas. É então que Billy começa a balançar a cadeira forçando-a a despencar, e grita como se fosse Juliana o estivesse empurrando, Juliana tenta salvá-lo, mas Billy, gritando por socorro, continua jogando-se  no abismo. Apavorada, ela joga no chão o gravador segura a cadeira de rodas com as duas mãos, mas, suas forças são insuficientes: ele despenca do abismo, sorrindo para Juliana, triunfante.
        A polícia chega nesse momento, uma vez que fora informada pelo próprio Bill de que a esposa iria visitá-lo e ele portanto estava correndo perigo de vida. No gravador, os gritos de socorro de Billy ficam registrados, como que incriminando Juliana que, num silêncio dolorido, estende as mãos para ser algemada. Na delegacia, chora um choro sem esperanças.
        No entanto, o policial que acreditava nela, acalma-a dizendo:
        — Fique tranqüila, não pude entrar na mansão, mas filmei tudo do alto da montanha ao lado. Juliana então lembra da revoada dos pássaros assustados.
        Juliana foi absolvida no julgamento, diante das provas  de que Billy era um psicopatia suicida.
        Na saída do fórum, Juliana caminha pela praça, uma revoada de pássaros corta o céu ela pega uma folha caída da árvore sorrindo para o policial, que se aproxima. Juliana sorri alegremente apontando para os pássaros no céu; o policial num jeito descontraído convida Juliana para um refrigerante no barzinho da esquina.
        Chegam rindo, o policial pergunta: — Você sabe meu nome?
        Juliana diz que não e ele responde: — Billy. Ela sorri com a diferença de personalidade.
        Juliana volta a trabalhar na mesma loja, e no sábado seguinte Billy aparece diante da vitrina, sorrindo carinhosamente. Ela acena para ele, contente por que mais tarde se encontrarão.

Lira Vargas

« Voltar