Em Itarucuri as mudas haviam chegado viçosas, limpas, molhadas
como se tivessem apanhado aquela chuva pelo caminho.
Os olhos de quem as esperava eram de Arlindo Brandão que, tão
logo as viu, se fixaram nela com tal avidez que penetraram no meio de toda
a folhagem, fazendo-as corar.
Não só olhava, também as pegava várias
vezes, talvez pra sentir o melhor cheiro delas ou pelo tato descobrir de
onde tinham vindo.
Finalmente, Arlindo, cansado e sem mais o que pensar, encostou-se numa
árvore e dormiu.
Na manhã seguinte, deu com diversas pessoas à sua volta
que lhe perguntavam num só tempo qual o motivo exato dele as querer
enterrar.
Que elas estavam vivas, vem vivas, pra não quererem ser enterradas;
que elas não eram mudas e sim pessoas com documentos de identidade,
CPFs, o escambau.
Diante disso, Arlindo, com raiva, não duvidou um só minuto:
pegou o veneno que trazia consigo e espalhou nos pés delas, lá
dentro, nas raízes.
Depois de pouco tempo, elas foram murchando, se retorcendo, suas bocas
se fechando, os corpos se atrofiando, e só muito depois, aí
sim, já totalmente recuperadas, é que tiveram condições
de se desenvolver e se transformar no mais fechado e perigoso bosque pra
lá de Itarucuri.
P. J. Ribeiro