A ARTE: PROPRIEDADE E ETERNIDADE
 
Caio sentou-se ao lado do espelho para criar. Criar a obra de si, a arte mais duvidosa que se poderia surgir: o seu semblante.
Pintou, esculpiu e despiu ali a si mesmo; como nem deus o concebeu; como ele o concebia. Deus deu-lhe concessão para isso, deu a liberdade. É o poder-inveja que todos sentimos. É a grande necessidade de tudo tomarmos conta; domarmos a grande propriedade.
E assim foi se construindo a arte sob Caio. Despossuindo o mundo através do olhar humano, o puro espírito da inteligência divina estava sendo equiparado, duelado. Na arte o mundo todo é tomado pelo sensível de Caio, do artista. O mundo vira propriedade de suas mãos, de seu corpo, para se tornar de seu Todo.
Criou-se na própria arte, a imaterialidade, a transformação mais magnífica que Caio jamais ousou transgredir. Seus olhos latejavam, clamavam, quase rachavam.  Era o espírito que se ponha à sua frente. A eternidade, fora de todo mensurável.
E Caio superou deus por aquele momento.

Vinicius Mendes Ribeiro

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