Anete falando com seus botões
Por que eu deveria me preocupar com essas coisas? Há vinte anos, sim, me aplicariam eletrochoques... E eu, pobre de mim, teria que me conformar em ser uma prosaica professora de matemática, divorciada, ainda por cima. É claro que as coisas mudaram. Mas, será que as pessoas mudaram? Os psicanalistas que se apressem para inventar outros distúrbios rapidinho: psicose e personalidade cindida já eram. Tudo isso, hoje, é encarado como criatividade, pode acreditar!
Tudo o que precisamos é esse paraíso psicótico traduzido em bytes. Nele, somos tudo que sabemos ser e não nos atrevemos. Isadora Duncan, ressurreta, diamantes circundando o pescoço... Ou, quem sabe, Remédios - a Bela. É um mundo tão bom quanto qualquer outro. Eu diria melhor que qualquer outro. Principalmente agora, que a mídia inventou a mulher.
A realidade não existe mesmo, não é isso que está escrito naquela revista científica? Eu sou uma ilusão, não somos o que pensamos que somos. Nesse caso, é melhor projetar a imagem de Nefertite, Aspásia, talvez. Melhor a Gisele mesmo, por que não? Gisele Bündchen. No fundo, no fundo, tudo se resume em aplicar o algoritmo certo... Mas, cadê a maldita caixinha do Prozak?
Sandra Regina Sanchez Baldessin