VIAGEM TRIDIMENSIONAL

Pensamentos rondam minha cabeça, levando-me a mundos desconhecidos, em uma viagem tridimensional.

Em questão de segundos posso voar por montanhas, matas, mares e vastos campos, e, ao mesmo tempo, em um piscar de olhos, ver toda minha vida passar diante deles.

Ah! Que saudade ao rever aquelas imagens do tempo criança, onde tudo era festa. Não havia tempo para dúvidas e responsabilidades, apenas a pureza da diversão: as brincadeiras de roda, as primeiras lições na escola... como era bom.

Nesta viagem, pude rever os amigos que já se distanciaram, muitos dos quais, inclusive, perdi o contato, e tmbém me emocionei ao rever o dia em que, seguindo a lei dos homens, dei meu primeiro beijo: a inocência de um adolescente misturada ao desejo de um corpo ardente...

Ainda posso sentir meus lábios indo de encontro aos dela. Tudo era maravilhosamente lindo: a noite negra iluminava-se com o brilho reluzente das estrelas, que se faziam presente em bilhões, formando a mais linda galáxia.

Meu coração batia descontroladamente. Por um momento pensei que ia sair de meu peito, saltando rumo ao amor eterno.

Minha timidez ameaçava bloquear essa forte emoção, mas o desejo era maior; então, sem pensar, estreitei-a em meus braços.

Neste momento nada poderia me atingir: Meus medos e temores sumiram de imediato, paralisando-me no tempo, por alguns minutos. Foi quando que percebi que as lágrimas começaram a brotar em meus olhos — lágrimas de alegria por estar vivendo aquele momento único e eterno.

Quando pude voltar a mim e retomar a consciência, percebi, devagar, meu rosto colado ao dela como se fosse um só. Lentamente fui deslizando, cada vez mais perto. Mais perto de sua face trêmula, como a minha. Milimetricamente nossos lábios foram se tocando, mais, mais e mais, até serem apenas um só, e nossas almas se tocaram naquele momento — eu pude sentir —, como se elas tivessem deixado nossos corpos e partido em direção ao espaço;

Suavidade, carinho, calor e paz — uma mistura de sentimentos...

Por alguns momentos ficamos assim, mas o infinito não foi eterno. Aos poucos, voltamos aos nossos corpos, nossas bocas se separaram e depois, as nossas faces.

Já não estávamos mais abraçados. Um olhava para o outro e se perguntava como foi que tudo aconteceu. Para mim não precisava qualquer justificativa; mas ela parecia insistir em achar uma. Seria pela diferença de idade entre nós? Ou por que ela ter passado por problemas que eu desconhecia, na época?

Nunca soube a resposta, porque ela foi embora, rapidamente, quase que fugindo, e nunca mais estivemos juntos.

 

Já não consigo prosseguir nessa viagem tridimensional... Volto deste ponto longínquo para a realidade amadurecida de hoje. A pureza e a simplicidade já não existem mais como antes, a não ser em minhas lembranças, tesouro guardado no fundo de mim mesmo, trancado a sete chaves, para que nada e ninguém possam tocar nele.

André Silva

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