Labirinto
Aquela mulher olhava para mim com olhar marcado.
Sabia que a conhecia de algum lugar distante nas brumas da memória.
Ficamos paradas ali, uma diante da outra, sem palavras.
Ela esboçou um gesto de surpresa, quis falar, mas percebi que não conseguiria. Assim como eu permaneci calada, a garganta
cerrada, os olhos esquecidos.
O vestido, conheço bem.
Muitas vezes o usei outra vez, na lembrança daquele baile no Labirinto.
Onde perdi meu sossego e a identidade.
Com estas rendas e sedas percorri atalhos, desfaleci em quebradas, sem nunca achar o verdadeiro rumo.
Porque aceitei o convite da mentira. Porque segui o conselho da vaidade.
Ela me olhou e as lágrimas correram.
Nossas faces identicamente molhadas de passado.
O desenho da renda era outra vez o caminho intrincado em que me perdi mil vezes, sem saída.
Porque compactuei com a beleza da trama. Porque aceitei a poesia do bordado.
Os olhos maquiados da outra permaneciam estranhamente brilhantes, corretamente intactos, como as faces translúcidas de
outrora, como a boca vermelha da juventude eterna.
Sabia que eu me reconheceria.
Eu também sabia sobre mim.
Depois de tanto tempo, enfim, o Labirinto me devolvia ao momento presente. O Labirinto vomitava meu passado no agora.
Estava ali, diante de mim.
Andara muito. Procurara tanto.
E tudo estava igual.
Era de novo o baile, a música recomeçara, o vestido, a paixão... vou me perder de novo.
Não há saída deste Labirinto.
Ele sempre começa onde você está.
Maria Helena Bandeira