QUEBRA DE ROTINA
A estação do Metrô estava relativamente vazia para aquele horário e algumas pessoas acotovelavam-se na tentativa de alcançar um lugar em um dos bancos do trem que parecia ter pressa para partir, já que o som insistente, comunicando que as portas seriam fechadas, não cessava.
Nessa desnecessária confusão, Silvia sente em sua nuca algo como que uma quentura, uma sensação conhecida, e vira-se na intenção de procurar quais seriam os olhos que estariam observando seus passos.
Encostado no corrimão da escada rolante, a poucos metros de distância, estava um homem elegantemente charmoso, deixando que sua figura
impressionasse os olhares femininos quando, de braços cruzados por sobre o tórax, demonstrava os músculos firmes, um aspecto agradável de um homem que parecia ter mantido a vaidade rondando em torno de si. Enfim, o dono dos olhos que despertaram a atenção de Silvia, dada a vibração e o calor que ela sentira momentos antes.
Silvia, apesar de não reconhecer nesse homem alguém que já fizera parte de algum momento de sua vida, agradou-se do que viu e percebeu, sem demora, que a recíproca fora verdadeira.
Após essa rápida troca de olhares, melhor dizendo, essa rápida apresentação, embarcaram e sentaram-se, por puro capricho do destino, em bancos opostos, de forma que ficassem um de frente para o outro.
Na tentativa de recompor-se e não conseguindo evitar que a saia deixasse à mostra parte de suas coxas, Silvia olha um tanto sem graça para o homem sentado à sua frente, percebendo que seus olhos estavam atentos aos movimentos dela. Observou, ainda, o sorriso discreto no canto dos lábios do homem que parecia divertir-se com sua completa falta de jeito para endireitar-se, espremida que estava entre os dois brutamontes que
acomodaram-se de qualquer maneira ao seu lado.
Silvia demonstrou um certo constrangimento, mas ele não se fez de rogado e permaneceu com os olhos atentos, provavelmente na expectativa de vê-la ainda mais embaraçada e, assim, poder rir-se de tal condição.
Com esperanças de não piorar a situação, Silvia cruzou as pernas e desistiu de qualquer outro gesto, quando, já um tanto aborrecida e acanhada, reparou que o homem alargou o sorriso, rindo-se mesmo de seu embaraço. Diante dessa situação, envolvida na louca rotina de sua vida e, também, na pressa para chegar a algum lugar, ela não atentava para as boas surpresas que a vida poderia lhe ofertar.
Porém, algo naquele homem despertou em Silvia uma relativa tentação, uma vontade de ousar e não mais privar-se daquilo que mais queria em sua vida, emoção.
Zangada? Não! Nem conseguiria isso diante de sorriso tão maroto e, muito mais que não se zangar, embarcou na fantasia de tornar essa rotineira viagem em algo mais, quem sabe, "caliente".
E, assim, ela ficou mais atenta aos movimentos do homem que não disfarçava a intenção de embaraçá-la. Passou, então, a provocá-lo com discretas e espaçadas cruzadas de pernas e sentiu-se lisonjeada quando os olhos, antes na intenção de divertir-se, passaram a vigiar, indecisos, o ir e vir discreto de suas coxas e o decote, que deixava à mostra boa parte dos seios fartos e traduzia, através da blusa fina, a sensação que vinha como ondas em seu corpo.
Diante de tal provocação, Silvia sentiu uma onda de arrepios percorrer sua pele, quando as mãos másculas e prudentes apalparam o membro que não se aquietava na calça do homem, agora, timidamente irrequieto.
A cada estação o vagão ficava mais cheio e chegou o momento de não mais conseguirem manter tão excitante provocação. Silvia, tentando recuperar-se do que lhe invadia os pensamentos, levantou-se para saltar e levar consigo o calor alojado em seu corpo, deixando-a com ares de menina manhosa.
Preparando-se para saltar do vagão, Silvia sentiu-se como quem está flutuando e nem se assustou quando o corpo aconchegado ao seu permitiu que ela sentisse o volume que se acomodou em suas nádegas. As mãos que seguraram sua cintura e a voz sussurrante lhe pedindo para não partir, fizeram-na refletir, num lampejo, sobre seu propósito de fazer com que aquele dia fosse diferente de todos os outros, ao menos em emoção.
Nos pensamentos de Silvia só cabiam duas perguntas:
— Como poderia não atender aos apelos? Como não seguir o instinto da fêmea liberta naquele momento?
A porta do vagão fechou-se, assim como seus olhos. Neste mesmo vagão, repleto de passageiros, cada qual com seus anseios e desejos, Silvia viu-se deliciosamente encurralada na porta fechada, deixando seu corpo contaminar-se da presença do homem desejado. O roçar, o toque da mão já à vontade para alcançar seus seios e alisar os bicos que ardiam, intumescidos de desejo, fizeram com que ela o provocasse, rebolando suavemente, trazendo com avidez o corpo daquele homem para mais perto do seu.
A respiração ofegante e as narinas fartando-se do perfume e do cheiro da fêmea, deixaram aquele homem enfeitiçado, desprovido de qualquer pudor, a ponto de embrenhar-se, com a mão embebida em cobiça, por baixo da saia de Silvia, experimentando a pele sedosa de suas coxas, deixando seus dedos roçarem e tocarem o sexo em brasa.
Afoito, louco na sua intenção, não mediu esforços para dar fim a aflição que tomou conta dos dois amantes anônimos. Pediu para Silvia entregar-se e experimentou, feliz na sua vaidade de macho, o gozo escondido, que fez com que Silvia sentisse os pés fora do chão, o sexo encharcar os dedos ágeis, nos lábios a mordida que impediu a expressão do prazer do seu corpo tomado de sensualidade.
Recompostos, despediram-se com o olhar de agradecimento e retornaram às suas vidas comuns.
Amanhã, Silvia estará na estação do Metrô, como em todos os outros dias estivera, porém, enxergando com outros olhos todos os detalhes da viagem de retorno ao lar.
Márcia Ribeiro