Os desencontros da vida

Quando eu era criança eu tinha vários sonhos, ir para Disney, conhecer a Xuxa, poder ir para a escola sozinho pra mostrar para aquelas garotas que eu n'ao era nenhum “nenenzinho mijão” como eles gostavam de dizer, e conhecer pessoalmente o papai noesl, esse era o meu maior sonho.

Talvez por ironia do destino ou por azar mesmo, fiquei extremamente frustrado quando minha mãe veio com aquela conversinha mole

— Meu filho, você já esta virando um rapazinho, mamãe precisa te contar um segredo.

— Fala mamãe, eu adoro segredos.

— Sabe papai Noel, meu filho...?

E eu todo empolgado, interrompi sua fala

— Sei mãe, ele vem aqui hoje e vai me trazer um sacão de presentes?

E ela me respondeu na maior felicidade

— Não meu filho, tudo isso e fantasia, papai Noel não existe, eu e seu pai era quem fazíamos essa brincadeira com você...

Puxa, aquele foi um dos piores dias da minha infância, fiquei chateado com aquela historia toda, queria logo crescer para fugir desse “mundo da fantasia” e entrar logo no “mundo das verdades”.

Pois e, eu cresci, mas descobri que, como todo mundo eu também não conseguia fugir dos sonhos e desejos. Agora eu já tinha 13 anos e como todos diziam, já tinha virado um “aborrecente”.

Nessa minha fase da vida o meu maior sonho era ganhar um skate. Eu queria aprender a fazer aquelas manobras radicais pra mostrar para minha família uma certa rebeldia interior, coisa de adolescente.

Meus pais sempre resistiram a essa idéia, ate que, depois de um ano eu consegui convence-los, já que todos os meus colegas agora já tinham um skate.

Mas foi bem no dia em que eu ia ganhar o tal skate, que eu resolvi pular o muro da casa do vizinho pra pegar uma bola que tinha caído lá e quebrei o pé.

Eu fiquei com tanta raiva que desisti do skate.

Com o passar do tempo passei por tantas outras frustra;oes. Aquele velho sonho de namorar a garota mais boita do colégio que resolveu namorar justamente o meu melhor amigo, aquela vontade de fazer uma tatuagem no bra;o, mas tinha chegado a epoca de servir o exercito...

Cresci mais um pouco e agora já estava com os meus 33 anos e resolvi me casar. Depois de uns dois anos minha mulher engravidou. O meu sonho era que fosse um menino pra que eu pudesse lhe ensinar a jogar uma pelada, lhe dizer o quanto antes que papai Noel não existia... mas veio menina.

Hoje eu já estou com os meus 80 anos, com dor na cabe;a, dor no ouvido, dor nas pernas, dor nos bra;os, dor na barriga, dor na bunda, enfim, dor no corpo inteiro, muitos dizem que já estou ate caduco. E sabe qual e o meu maior sonho? Morrer logo.

O pior e que vem sempre um remediozinho que alivia as minhas dores e o diacho da morte não chega.

Mas a vida e assim mesmo. Entre o sonho e a realidade existe sempre um anjo mau que resiste ao nosso desejo.

Marine Alves

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