Surpresa de pulga
Contar, viver ou ouvir histórias num domingo chuvoso pode ser boa forma de passar o tempo. Saindo de uma gripe então...
Vasculhou e-mails, respondeu alguns. Ferveu o resto de canja na panela, tomou-a com gotas de azeite. Não quer cinema, nem teatro, não quer ler, pra não dormir por conta dos antitérmicos.
Alguém marcha no seu teto, mas é o chão de alguém e não seu teto. Mudou então seu ponto de vista: imaginou-se uma pulga no canto da sala acima da sua. Viu a tarde chuvosa que se esvaia da mesma forma como lá embaixo. A marcha era para arrumar algumas coisas fora do lugar. O salto de cinco centímetros sob o assoalho de madeira marcava a espera e os preparativos.
De repente quatro toques na porta. Uma parada no espelho. Tudo bem. Abre a porta e o puxa. Tira-lhe a capa de chuva. Um tudo apertado ali mesmo na porta que bate, e o coração, disparado, dispensando os saltos e as palavras. Assim, apertados de fúria e prazer, corpos quentes, suando e tremendo, são levados para o quarto onde uma outra pulga já os aguarda em volúpia.
Tânia Barros