ESTRANHAS ÁRVORES
O assunto rendeu manchetes em todos os jornais, revistas e canais de TV: “A Fonte da Juventude, agora, era REALIDADE.”
“Peder Munch e sua colega Kirsten Jendastter comemoravam. Finalmente, após anos e anos de pesquisas, concluíram, de forma positiva, seu trabalho, apresentando ao mundo um produto revolucionário na luta contra o envelhecimento.”
A repercussão não se fez esperar.Houve uma corrida em massa na busca de maiores informações e, depois de confirmada a veracidade da notícia, laboratórios do mundo inteiro, bem como as mais renomadas empresas de cosméticos, buscaram adquirir, se não o monopólio, pelo menos uma fatia de direito ao uso, vendidos a peso de ouro.
Munch questionava esse apressado lançamento, por julgar necessário mais algum tempo de testes.Entretanto, sob a pressão da fundação mantenedora e de sua companheira Jendastter, concordara com a comercialização.
Quase imediatamente, surgiram diversos produtos contendo a referida substância, em diferentes concentrações e formas.
Cremes, xampus, cosméticos, em geral, para uso externo, bem como cápsulas, milk-shakes, cereais e injeções, enlouqueciam o público consumidor, principalmente o feminino, na busca do retorno à beleza dos vinte anos, sem a preocupação de uma cirurgia plástica, de forma totalmente indolor.
Os resultados não se fizeram esperar. Colodan IV, realmente, funcionava.
Nas festas e rodas de amigos o tema estava sempre na pauta do dia.
As revistas estampavam nas capas as famosas fotos do antes e depois, levando quase ao orgasmo o grande número de mulheres que já faziam uso da substância e estimulando, violentamente, àquelas que ainda não a tinham experimentado.
Vaidosa, como toda mulher, Kirsten tornara-se fiel usuária do produto e passava a ser uma garota-propaganda de sua própria descoberta.
Os meses sucediam-se e os produtos contendo Colodan IV, ocupavam o primeiro lugar no ranking de vendas.
Um estranho fenômeno despertava a atenção das autoridades policiais, assim como a dos governantes de diversos países: mulheres “saradas” e de bem com a vida, vinham desaparecendo, sem explicação, apenas com a roupa do corpo, não deixando o menor vestígio.
Apesar de intensas investigações e buscas, envolvendo todos os setores responsáveis por estas áreas, nenhuma delas fora reencontrada.
Não havia pistas nem relação entre os casos, mas seu número aumentava a cada dia.
Nas mais diversas capitais, pequenas cidades e vilarejos, a vida seguia, com passeios, estudos, trabalho e diversão, num curso aparentemente normal. De forma despercebida, árvores de diversos tamanhos, com irisadas folhas que variavam do branco ao negro, passando por todos os matizes do vermelho, marrom e amarelo, algumas com detalhes azulados e, mais raramente, verdes, surgiam em diversos locais.
Se alguém se detivesse a observá-las mais detalhadamente, poderia até mesmo dizer que se assemelhavam a figuras femininas, nos tons de cabelos, olhares desesperados, e com seus ramos em estranhas posições, parecendo braços, tentando agarrar-se a algo que impedisse o seu enraizamento.
Nos jornais, duas manchetes de capa:
“Kirsten Jendastter, famosa cientista, engrossa o universo de mulheres misteriosamente desaparecidas.”
“Colodan IV bate recordes de venda em todos os países.
Tania Melo