Vômito

Quando colocou o cano frio do revólver no céu da boca, para tentar o suicídio, o toque ríspido do metal na garganta provocou-lhe — e não o medo — uma terrível ânsia de vômito. E expeliu toda a sopa na arma, cobrindo de ricídulo a solenidade da morte.
Com o brio humano retomando seus territórios, jogou, enojado, o revólver no w.c.
A descarga afogou o desejo suicida.
E, irradiando um sorriso de beatitude, o exilado foi desenhar a carvão.

Cláudio Feldman

Do livro: Abutres, Edições Taturana, 2000, SP

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