OS VISITANTES
Chegara o tão esperado dia. A apresentação final para a conclusão do Ensino Médio. Aquela que o professor ficou comentando durante o ano inteiro era, finalmente, hoje. É claro que eu e meu colega, pois a palestra era em duplas, nos preparamos muito bem. Mal podíamos esperar a chegada da hora da apresentação.
Faltando uns cinco minutos para começarmos, o professor nos diz para irmos ajeitando os materiais de apoio e deixarmos tudo pronto. O nervosismo começou a tomar conta de mim e de meu colega. Quem começou foi ele. Estava muito nervoso, apesar de haver poucos alunos na sala. Era a avaliação final e tínhamos que mostrar tudo o que havíamos aprendido durante o ano, de forma resumida.
Meu colega misturava os assuntos, comentava sobre um tópico, depois ia a outro, voltava, repetia... Sua mente estava uma tempestade. Comecei a suar antes de chegar a vez de apresentar minha parte.
Era mania do professor inspirar o ar sonoramente, dando a entender que estava ficando aborrecido. E ele fez isso bem no meio da apresentação. Pensei: “é agora que ele dá uma bronca em nós”. Mas nada falou.
Enquanto meu colega apresentava, apareceu na janela um visitante bem curioso. Assim que percebeu que a nossa situação, lá na frente, não era das melhores, pôs a cabeça pelada para dentro da sala e ficou nos observando. Na seqüência, estendia o olhar para o restante da turma.
Um a um foram chegando mais visitantes , imitando a atitude do primeiro. Foi a cena mais estranha e engraçada que havia visto. A situação me fez ter um ataque de riso, que a turma inteira compartilhou. Eu não conseguia parar de rir, talvez pelo nervosismo e pelos visitantes curiosos. Então, chegou a minha vez.
Minha parte foi pior que a do meu colega. Não conseguia mais me concentrar, com aquele mundo de olhos nos fitando na janela. Olhei para o professor e... Esqueci o que ia falar e comecei a inventar assuntos. O professor percebeu na hora. Quando viu que não havia mais jeito, interrompeu-me e disse:
___ Vamos acabar com este suplício?
Engoli em seco aquelas palavras. Estava tudo arruinado. Parecia que os xeretas da janela ficaram eufóricos com a nossa derrota. Empurravam-se e faziam um alarido. O professor levantou-se, espantou-os e fechou a janela. Disse que nos daria outra chance para apresentarmos o trabalho.
Chegou o dia da nova apresentação. Estávamos bem preparados. Iniciamos a apresentação. Nada dos visitantes. A palestra transcorria, com o interesse da turma e admiração do professor...
E os visitantes? Desta vez os urubus não apareceram, com suas cabeças peladas, para xeretar.
Jonathan Peña Castro