TAKE 10

Sem perspectivas. Sentado num banco desolado de uma praça desolada numa noite desolada e um pouco deserta. Carros, bares, pizzarias, alguns amigos para alguns minutos, então, calçadas. Calçadas. Os pensamentos totalmente derrotados, impossibilitados de se reerguerem. Cansaço e dor de cabeça. Hoje é passado. O clima é uma mistura ardente de calor e frio. Algo como um presságio estranho. Passa apressado atravessando a calçada, com os olhos no nada e a pele de fada. Buzinas. Velhos amigos que perderam o contato...agora freqüentam lugares diferentes. O salão da sinuca. O barulho seco das bolas batendo umas nas outras, estalando. Pessoas curvadas sobre as mesas, com tacos em riste. Fico triste. O ar me sufoca. O lugar velho, tão velho quanto os velhos que foram expulsos de lá pela garotada. Buzinas do lado de fora. Sexta-Feira. Os pensamentos foram abandonados, os sentimentos também, os momentos e os tormentos. Cheiro de fritura e comida japonesa. Cheiro de faculdade. Bolas coloridas que anunciam a impossibilidade de qualquer reação. Bolas que são poemas, poemas de morte, dor e ilusão. AQUI ENTRAM AQUELES QUE PERDERAM AS ESPERANÇAS. Dante. A vida fervilha e  me dá vontade de chorar. Melhor mudar o tom antes que vocês comecem a me chamar de niilista, gótico, pessimista, dark e todos esses termos que tanto me irritam. As pessoas se apaixonando por mim por causa das coisas que escrevo. Os números telefônicos me escapam da cabeça. Bancos de cimento contornando a praça. Resolvo me sentar, embora não tenha muita certeza de nada. A noite vai acabar e outra vai começar. O barulho das bolas de sinuca, o som de suas pegadas apressadas nas calçadas, o telefonema, o último ônibus partindo, o cara novo, e tudo de novo.

Daniel Frazão

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