Hard Core para Violinos n º 1

Como um certo concerto de três notas matemáticas, meus pensamentos se repetem em seqüências ora serenas, ora agitadas. Como seda sintética, sinto uma maciez antialérgica. Velcro nos lençóis. Garras afiadas sobre superfície macia. Quantas vezes o telefone vai tocar até entenderem que não estou em casa? Pára! Pára! Parou. Que lindo dia, que sol brilhante! Sair pra quê? Prefiro a segura sombra da caverna até o anoitecer. Ta bom: chá de gengibre, cafeína e proteína. Uh! Essa coisinha que estou sentindo parece a vida. O corredor é curto, não dá pra correr muito. To tirando o synteco do parquê. Olha aquela graminha reciclável lá embaixo; parece tão convidativa. Podia andar ali como Godzila dando um passeio em Tókio. No dia seguinte as coisas estariam do mesmo jeito. Caminhar descalço, abraçar uma árvore. Cadê meu machado? Talvez algum dano permanente mude o meu dia. Acho que vou colocar aquelas redes nas janelas. Acho que preciso comprar um cachorro. Qual raça está na moda agora? Golden Retrevier? Muito grande. Maltês? Muito veado. Andar de elevador já é um bom passeio. Preciso de um parque. Essa ridícula linguagem reducionista que faz com que chamem o Ibirapuera de Ibira esta me contagiando. Vou na Redença, passar numa padoca, comer um croá. Vou na cozi, pegar uma gelê, fazer uma torrá. O THC do gengibre consumiu meus neurônios. Enquanto isso o sol segue sua trajetória de arremesso de martelo. Pq a droga do telefone não toca?

 

Hard Core para Violinos Nº 2

Emblemático. Histérico um tanto afônico. Até então apático, anímico. Ainda anônimo. Chega! Sozinho, levanto a bandeira sob olhares curiosos das pombas da Praça Tavalera. Uma pomba caga na minha camiseta falsa da Cavalera. Ruuuu, ruuuu. São as risadas de Don Giovanni. - Vão tomar no cu todas vocês! - As pombas não cagam no cara de Armani. Bichinho burguês. Fico distraído. Uma cigana pega minha mão. - Quer ler a sorte? - Atravesso o mastro em seu pulmão. - Quer ter com a morte? - Sangrando muito pelo nariz, suas últimas palavras: eu vejo aqui um futuro feliz...

Marcelo Niederauer

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