ME NINA
Tomo minha água de coco e não sopa de asa de barata, de pele de cobra, de sangue de morcego, essas coisas. Não fiz nenhum feitiço: caminhei duro mesmo os quase sete quilômetros em volta da lagoa, passos rápidos porque a meteorologia parece ter acertado mais uma vez e a frente fria prometida chegou: começa a chover no Rio. Ontem sabia que não ia ter nenhum sabá, era um sabadozinho qualquer, no máximo um cineminha e mesmo assim, só se comprasse com antecedência o bilhete na ingressopontocom. Não sei do que ele está falando... as letras é que são poderosas e quando se combinam fazem mágica, contra a minha vontade, bem entendido. Apesar de mim. Embaralham-se e saem voando (nem precisam de vassoura) da mente direto pro papel. Não sei o que resultará: não escolho, sou escolhida. Se alguém é bruxa aqui são elas, sou só um instrumento. Eu e minha pena. Que pena! Bem que gostaria de reforçar essa lenda, mas não. Sou pequena diante da criação. Menina, chorando e pedindo me nina, que preciso de colo e muito sono pra hibernar e enfrentar esse tempo.
Ana Guimarães