Rapidinhas

I

- Cara, tô com problema.
- Qualé?
- Doze anos...Não tinha condição...
- E agora, o que vai fazer? Divórcio?
- Já pensei em tudo...
- ?
- Até lá outro nome, outra vida, enquanto a carcaça não tiver fedendo embaixo da pia.

 

II

Esplendorosa, mastigando chicletes. Encosta o corcel II, fita o conteúdo da coruja travessa, solta o trago cambaleante, ela enrubesce.
- Quanto?
- Cento e cinqüenta lavagem completa. Topa?
Sob o latido insone do motel, madrugada. Arria o traje. Espantado. Primeira vez. A mangueira regando a frutinha.
- Devagar...Bem devagarzinho...


III
Psicose

deseja o agitar das sepulturas farfalha rios de demônios radiantes enquanto conversa tranqüilamente com vultos iníquos ela percebe sente calafrios viajando magros tornozelos deve fugir havia sido dolo por muito tempo pega a vida sobre a pia a navalha fazendo cócegas nos dedos toma-a corre grita socorro precisa de ajuda ela está pronta para uivar como cadela no cio de joelhos pedidos por clemência questionamentos a respiração exala enxofre a lâmina escorrega pela latente jugular cai rígido sobre o suado capim semanas depois corpo encontrado  Melleril 500mg/dia causa da morte apurada esquizofrenia progressiva
                     cuidados especiais prontuário médico “caso de internação”



IV

- Amorzinho tô com saudadinhas de você.
desliga a televisão faz carinho nos cabelos ralos de sua cabeça descabela o palhaço muito tempo sem saber o que é roda gigante apalpa o gnomo faz cócegas ele se vira de lado um beijo de batom vermelho cereja na gola da camisa de linho e o telefone da secretária vazando do bolso.



V

a mulher para amiga:
- É um absurdo...Por que você não denuncia?
- E correr o risco de perder a sobremesa depois da quirera? Não minha querida, muito obrigada.
...

 

VI

canta com os beicinhos de bule de café brinca implicitamente com a canária assovia espana a mobília com fervoroso prazer de empregada olha para os lados contaminada de segredos
quase chegando a hora quase
- Lucilene quando terminar aí será que você pode dar um jeito na cozinha?



VII

na janela semi-aberta vesgo de rosto apenas observando menina pulando corda como se estivesse desabrochando pores de sol encosta a mão vira os olhinhos cravejados de necessidade dá um suspiro baixinho

outro suspiro

Diego Ramires Bittencourt

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