MEXERICAS & MEXERICOS
Sua laranja azeda! Gritou a senhora Pon Kan toda mexerica para a senhora Bahia, que estava à sua frente falando alto para todos que quisessem ouvir, que a partir de então venderia seus doces encantos no mercado central. A dona Bahia virou-se para a Pon Kan e respondeu a provocação da mexeriqueira, sorrindo amarela e sem sementes na língua, dizendo-lhe que ela, sendo tão Pon e Kan não podia falar nada das outras porque... Além de ser tão solta, descascava fácil nas mãos ávidas dos fregueses, enquanto que ela, Bahia de todos os encantos, guardava as cascas bem juntas à sua laranja.
Nisso, apareceu a senhorita Carioca meio fora do seu tempo, já que estava longe da praia. Chegou toda pequena e vermelha de tanto tomar sol, bem de mansinho, e fez um mexerico mexendo com seu próprio aroma, quando disse que seu cheirinho ficava sempre na lembrança das mãos de quem a descascava. Essa declaração carioca deixou as senhoras que circulavam pelo mercado com vergonha. Tímidas, deram um jeito de irem aos lavatórios para lavarem bem as mãos, que as denunciavam com o cheiro daquela declaração.
Mas o pior problema era a fúria das senhoras Pon Kan e Bahia, que não se conformaram com aquela senhorita Carioca tão magra e sem graça e que conseguira roubar toda a atenção com aquele perfume estonteante. Com raiva, sacudiram suas cascas e rolaram em direção à desaforada.
No entanto, como o Sumo Sacerdote do Destino sempre age na hora certa, apareceu uma doce peregrina que viera de Lima, que interveio ao ficar bem no meio da briga, oferecendo seus pobres bagos em sacrifício em troca da paz mundial. Por onde passava, ela pregava a harmonia com toda a doçura que trazia na essência, desde que deixara seu bucólico pomar para enfrentar os inclementes mercados da vida.
A senhora Lima fez uma pausa para ganhar fôlego e até ficou meio esverdeada, mas mesmo assim continuou a pregar. Insistiu em que todas aquelas senhoras que estavam no mercado à procura da sua meia laranja, no fundo, não deixavam de ser laranjas irmãs e por isso deveriam completar-se confraternizando numa grande laranjada.
A dona Morgot, que até então não se manifestara, pois era a única que possuía casca fina, apareceu com uma jarra de gelo para colocar nas batidas, das senhoras que mesmo assim, continuaram ácidas, com os sucos de laranja quimicamente alterados.
Madalena Barranco