O canto, para quem precisa calar
Perdido sem tempo, com todo tempo e espaço do meu mundo, planos perdidos na noite feita p'ra fazer a cabeça, esqueça, planos descartados e uma confusão de estrelas cadentes e planetas sem órbita zombando do meu projeto de paz... Apenas fragmentos, conjecturas de cenas impossíveis (serão?), lembranças vagas de uma juventude tonta porém deliciosa, estrada viciosa que me mata sem eu mesmo saber apesar da consciência do mal, do podre do pobre... não há o homem firme, dono de si, responsável progenitor, homem trabalhador suor ao rosto e o gosto do jantar merecido, não há o coração concentrado, somente a saudade sincera deste homem talvez quem sabe pseudo maduro, conflitando com um capricho nascido de um olhar negro bela luz num bar de um domingo de uma noite dessas que a gente dança, não cansa, e se procura gente, gente, sabe, aquela gente que poeta na noite da boa música, dança, canta, olha, descobre, disfarça, conjectura, a! pele morena mais eu, eu, como um dia por muito pouco fui, essa coisa besta de pensar em juventude que ficou apenas grafada em cadernos de juventude, mais a doce ilusão que realidade nua e crua pelas camas desertas, num tempo em que eu cantava, dançava, olhava, sabia, poetava sem mentira e culpa a descoberta do nunca finalmente a saudade sincera que hoje guardo feito tesouro, apesar da guerra dentro de mim. Daí agora, se ela ir embora feito samba da sua linda cor, no meio da festa antes de tudo acabar como doce lembrança, no meio da batalha dessa falsa esperança, tudo bem – só vou me lembrar então das tranças negras sobre o lindo ombro tão bela cor negra, mais a dança igualmente tão belamente negra, mais o medo de simplesmente sorrir p'ra mim na volta do intervalo que te persegui só p'ra tentar ver você sorrir p'ra mim. Tudo bem. Eu sei o sorriso agora é proibido, e não feito caça ditatorial – apenas porque a paz precisa vencer a guerra, a intempérie, o conflito, a estrada vi c! iosa podre pobre consciente, quem sou não sei, quem é você também não vou saber. Que de bela negra mais me vale a noite que já perdi, pois não quero perder mais ninguém.
Cauê André Rigamonti