A GENTE SABE

A gente sabe quando encontra.
Às vezes pode até deixar passar, não conseguir, ou mesmo perder.
Mas a gente sabe.
E a certa altura da vida, a gente sabe mesmo!
Nem tantas foram as experiências, numericamente bem poucas, mas o bastante para ter exemplos, para fazer a média. Média baixa, diga-se.
Aí o que pode vir? Repetição. Sim, não tem jeito. Deste ou daquele, da média, com variantes. Mas nada que não nos traga à memória algum acontecimento. E normalmente, um fato que preferíamos esquecer. Sim, porque os bons momentos, se existiram, ficaram guardados. Claro! A gente sempre guarda, mesmo que não divulgue. Não porque a gente não queira, mas porque normalmente, “eles” não gostam de ouvir. Natural. São práticos, óbvios... humanos, enfim.
Aí vem um dia, assim do nada e pimba! A gente vê, descobre, esbarra ou mesmo dá aquele encontrão de jogar no chão! De início pode até pintar certa dúvida. Principalmente quando a gente, já calejada, enxerga tanta diferença... Quase um abismo!
Mas aí os dias vão passando, viram meses e...
O que depois de um tempinho a gente percebeu o que era e chamou de paixão, vai ficando. Ficando sem dar folga. E aí?
Paixão é doença, e doença ou a gente cura ou ela mata a gente.
Pois é...
Eu não morri. Tampouco me curei. A doença ficou, virou coisa crônica, daquelas que a gente sabe que não vai sarar, que tem que conviver com dias melhores, outros não, mas com ela lá: um bicho vivo dentro da gente.
O nome muda. Paixão vira amor. E amor “dos bão”! Ou pior, “dos brabo”!
E a gente se dá conta que não quer mais. Só aquele. Nenhum outro. Pra que?
Qualquer outra coisa seria aquilo: re-pe-ti-ção.
Pois que seja. Se tiver remédio, que venha. Que me mantenha sob controle. Que eu possa sobreviver dignamente, mesmo “doentinha”, mas sob os cuidados dele.
Se não tiver, que fique desse jeito mesmo. Melhor assim. Mesmo que seja só esperança, delírio, ou mesmo lembrança...
Afinal, se for pra lembrar, melhor que seja dele. De ninguém mais.
A gente sabe quando encontra, e se não for pra sempre, é pra nunca mais.

Maria Luiza Falcão

(1º de março de 2006 – no apê-zinho em BH)

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