Coquetéis...
Me bateu uma saudade do caralho. Você faz muita falta. Muita mesmo. Aí eu fiquei imaginando soluções para amenizar a angústia fudida quem me corroía. Um monte de bobagens. Soluções não faltavam: Pular do décimo quinto andar, Me jogar embaixo de um caminhão de lixo - afinal, era assim que eu me sentia -, tomar uma dose de cianureto. Com gelo. NDA. Se fosse mesmo pra morrer, eu queria algo mais glamuroso. Preferi uma dose de vodca. Pura. Muito gelo, por favor. Já que eu era um bosta sem coragem até pra se matar, pelo menos eu podia me autodestruir de um jeito que não sentisse. Corroendo tudo por dentro. Uma morte homeopática. Coquetel explosivo: álcool forte e saudae de alguém. Caralho. mas eu não queria me matar. Nunca quis. O que eu queria era um pouco de atenção e carinho; gentileza, afeto, risos bobamente cúmplices e o seu cheiro me invadindo. Eu só precisava de um abraço seu, um pouco de proteção, ouvir sua respiração compassada; só queria o seu rosto no meu e te ouvir dizer que tudo vai dar certo. Meu mundo estaria salvo. Eu sobreviveria a qualquer terremoto, inundação ou genocídio. O caralho a quatro. Precisava disso. Um mínimo de carinho que faz com que uma pessoa se sinta viva. E sã. E bem, e feliz e saudável e generosa e sorridente. Não, eu nunca aprendi a viver sem amor. Ok, ok, eu estava na farra, e agarrar alguém que você nunca viu, levar pra casa e trepar loucamente como dois animais e no dia seguinte, sem café da manhã, dar tchau é a coisa mais fácil do mundo. Mas eu não queria isso. Merda. Esguichar porra aos litros e depois dormir não ia acabar com a minha carência. Eu queria um beijo. Seu. E a parte do "dar tchau de manhã" a gente esquece. Isso é o resultado de se apaixonar por alguém que mora longe. Oito horas é tempo pra caralho. Talvez da próxima vez eu te sequestre, igual o filme do Almodóvar. E a gente viva feliz para sempre. Outro coquetel destruidor: o romantismo-exagerado-dos-babacas-loucamente-apaixonados e a falta de quem está longe. Outra dose tripla, por favor. Dessa vez de uísque.
Arnaldo Delgado Sobrinho