O MILAGRE EXISTE

A princípio, ele pensava que voltar a Portugal, principalmente Lisboa, depois de mais de trinta anos seria extremamente prazeroso. Rever a Avenida Liberdade onde morou na Pensão lys e usurfruiu de inesquecíveis encontros . Idas e vindas naquelas alamedas de árvores centenárias e calçadas decorradas com pedras portuquesas com motivos diferenciados do resto da Europa. Sentar no banco da Avenida e ler Fernando Pessoa, ouvir os irriquietos pardais. Eram constantes seus  pousos naquele sitio e encontrar gentes que permanecem na sua memória. A simples dona de casa passeando com seu cão, os leiteiros, comerciantes , porteiros, artistas, putos e meretrizes.
Tudo era muito simples para ele, e essa simplicidade tornava sua permanência em Lisboa perfeita. Seu pai era italiano, mãe brasieira, neta de portuqueses. Conhecera alguns tios lusitános no Brasil e os que os caracteriza era a maneira solta o falar sem censuras. Apesar de ter vivido na ditadura Salazariana fez muita sacanagem, amou seriamente e participou ativamente de grupos contra o despótismo da época. Homem bonito nos seus vinte e três anos, aprveitava disso para levantar alguns trocados. Havia se formado no Brasil em Líingua e Literatura Portuguesa entre outras coisas, tinha pois o passaporte timbrado por Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Almeida Garret. Sua sensibilidade o fez amante do fado e de uma "jeunesse dorre". Os corpos passavam por sua cama como a mesma atividade que os comboios iam e vinham de Cascais para Lisboa. O Parque Mayer onde havia muitos teatros, as famosas revistas portuguesas, assinava ponto toda a noite, ficava a um quarteirão de onde residia. Isso era Lisboa que estava vivo nele, cheias de surpresas, até certo ponto, convenientemente castiça. Com a revolução dos cravos em 1974 foi para Paris, infelizmente perderá o emprego, e amigos o convenceram ir morar em Glichi, bem isso é outra história. De volta em maio de 2006 de imediato pos-se a procurar referências. Havia uma grande mundança, já estivera em Lisboa antes do maldito euro, mais fora msó por dois dias. Chegou com uma amiga portuquesa qeu saiu para o Brasil na revolução, fazia três que não vinha. Relutou muito, a última viagem que fizera foi com um amigo e artista plástico a New york, meses antes do atentado de 11 de fevereiro, na época, não tinha seu amado cão paulistinha. Era um belo cão irreverente como ele, quebrava todas as convenções e isso lhe permitia viver sem pensar nos problemas quase irresovíveis que vivia. Lisboa a seus pés na contramão. Ficou hospedado na casa do filho da amiga e sua esposa e lá pode deparar com tudo que sempre detestou. Convenções e regras. a classe média com toda a sua estupidez. Estava entregue aos torturadores, longe da sensibilidade, ligado a uma organicidade de merda. Claro que jamais tinham chupado um bom caralho oou enfiado a cabeça numa pentelhuda buceta. Suas metas: o carro novo, jamais teriam cancer ou parariam par ver o falar dos bebados. Entrara numa armadilha, pensando ter voltado em busca do tempo que foi vivido. O momento não inspira cautela e em função disso vomitou sobre seus desafiantes lavras de um vulcão que queimou a todos sem piedade. E como Cristo, criando um novo cenário, andou sobre as brasas ao encontro da sua amada Lisboa.

Vicente de Percia

Lisboa, 27 de maio de 2006

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