O que não mata, engorda
Pelo assoalho da cozinha, à noite da carcaça recente. Um bilhetinho, guardanapo, tudo entregava: “...me traiu”. Cinco meses e duas semanas, prontos ao matrimônio. Renunciou. A culpa, cometida. Foi demais.
Namoram e noivaram, princípios cristãos. Sábado e domingo, na sala, frente familiares. Beijos tímidos com sorrisos de crianças, seguindo ditames. Mulher vira da vida e homem lobisomem.
Segredos? Para núpcias.
Uma semana... Se encontraram. Os beijos tímidos ficaram sôfregos, excitaram, um dedinho rompeu a braguilha da calça e estourou gritos pela casa. Mulher vira da vida e homem lobisomem. Sexo antes do casamento matava. E matou...
Subiu as pressas, mãos entre olhos, desespero. Sentiu culpa, o dedinho corrompeu. Traição...Maior possível.
Da pureza, o corpo e as retinas nubladas de pecado.
Em desespero, sacou o trinta e oito do pai. Uma lágrima coagulada divida cena com a abertura na têmpora e três pães amanhecidos. O guardanapo e o futuro consorte testemunhando sirenes e aglomeração, arrependido. Quase sofreu ataque. Consegui escapar.
A procissão, mulheres chorando, crianças correndo e sirenes, o episódio lamentava. Assim como o cão, do outro lado da rua, que uivava desolado para o vazio de seu pote de comida.
Diego Ramires