EXÍLIO

        Escreveu uma carta de amor ao velho amigo de infância. Abriu aquela garrafa de uísque importado. Tirou a roupa. Maturbou-se. Gozou. Pediu almoço ao restaurante do lado. Fez a barba. Usou a colôniaque ganhara no Natal. Vestiu o terno novo. Pôs a gravata marrou. Atendeu a porta. Beijou a esposa. Matou seus quatro filhos a traços de bisturi. E saiu. Chegou ao orelhão. Ligou para o patrão. Disse estarresfriado. Acamado. Entrou no boteco da esquina. Pediu um choppe. Comprou cigarros. Passou pela banca. Pagou o jornal do mês. Foi ao banco fechou a conta. Rasgou na calçada a carteira de trabalho. Entrou no cinema. Chupou o garoto. Comprou a passagem. Entrou no avião. The End

João Carneiro

Do envelope: "As Cinco Pragas de Agosto", Ed. autores, agosto de 1979, RJ

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