Distraído
Seguiu a pé pela praça suja, o céu quase sem nuvens. Via ninguém, pássaro aqui, ali, um barulho de trem ao longe, bem longe. Escondeu-se da sombra, gargalhou sozinho e sentiu medo, voltar para casa, talvez nunca mais. A boca molhada lembrava dos beijos, eternos. Discutiu com um cachorro leproso, correu atraindo latidos, chutou latas, ficou perdido, a rua alargou. Avenida, muitos carros e o sinal que não fecha. Quis casar com a primeira passante, vislumbrou até os filhos que teria com ela: um casal. Alice e Silas. Não ouviu a buzina, apenas o coro dos anjos.
André Salviano