Caninis Familiaris
O cãochorro e seu amicão, profesoulouco da Universidadesca da sidacidade, saíram a passeio.
Passaram pelo bosque e passearam pela praça, onde encontraram outros cãeschorros latindo.
Uns latiam de alegria e outros: Vamos indo. Não se toca? Tô com fome!
O cãochorro é um animalamigo tão importantinteligente que muitos preferem chamá-lo simplesMENTE de cão. De tão importantelegante é o cãochorro que, etimologicamente, ele recebe um nome em latido: CANINIS FAMILIARIS.
O professor universitário meio abobado, sempre com seu cãochorro na coleira, ria, ria, pensando em mudar o mundo estudantil, ria, salivava só de olhar pro seu queridamigo cãochorro. E ensinava tudo ao seu cãochorro. Até disse-lhe ter ele originado-se do lobo. E o lobo, como também é figura importante, talvez por ser parente do cãochorro importantegigante, chamam-no de CANINIS LUPUS.
O cãochorro, ao ouvi-lo, desabou latindo e lambendo as suas sábias explicações históricas inúteis.
O ridículo nunca foi tão ridículo. E o professoulouco sentado quieto em seu canto, no meio do conto. Ao chegar na Universidacidade, ou em seu apertamento, sempre seu cãochorro rasgassaco de lixo do prédio inteiro, metia-se no meio das pernetas do professuado e ambos rolavam no piso até adormecerem.
De tanto amá-lo, o professor compôs um poema e, xerocando sua obra-prima da poesia pós-pós-moderna a qual chamava em sua chamada de aula de ultra-mais-que-moderna, passou bem passado a ver e vir vendê-lo nos corredores da Universidacidade, e também em pontos de ônibus e pontos de táxi:
Ô mundo de pernas abertas/ajoelhe-se e venha adorar/meu querido cãochorro já/já. Seus laticínios são músicas/de Nina ninar. Tem um osso aí?
A vida bestamente foi passando sem burrologia, sem burrocracia. Ambos assim envelheceram. Não morreram, pelo que dizem nos corredores da Universidacidade. Foram eles arrebatados em uma carruagem de fogaréu, durante um desfile de carnaval muito nonsense.
(...)
Marcello Ricardo de Almeida
Do livro Que achas do Padre beber em serviço?, EDUFSC, 2004