INVASÃO
De repente, estalos e arranhaduras soaram da terra móvel, que se arrastava devagar.
Pus os óculos e vi, à porta do paiol, uma linha negra de mil gafanhotos.
Suas cabecinhas triangulares e rígidas e miniolhos de faíscas coadjuvavam os maxilares triturantes.
Cerrei as aberturas e, com uma pá, esmaguei, enojado, alguns intrusos.
Acoitados os humanos e animais entre quatro paredes, rezamos pelo fim do massacre vegetal.
À tarde, os gafanhotos foram engolidos pelo horizonte tão misteriosamente como haviam surgido.
Não restava um grão de milho em meu sítio.
As piranhas aéreas tinham apagado de tal modo o verd da região que as abelhas, sem flores para o mel, estavam assassinando os herdeiros esfomeados.
Minha esposa, olhos turvos de desespero, lamentou-se
— Que mundo cruel! Só escaparam algumas raízes comestíveis! Devo também matar nossos filhos?
Sem resposta, fui pescar o crepúsculo melancólico: na cabeça, meu chapéu e a pulsante idéia de migrar para o asfalto.
Pátria de outros gafanhotos.
Cláudio Feldman