NÃO TENHO MEDO DO ESCURO. Não faço preces ao desconhecido. Não falo sozinha, não subo em árvores, não prefiro piscina. Não tomo refrigerantes, não fumo, não gasto dinheiro em jogo, não dou esmolas. Não bebo muito, não saio todo dia, não durmo sempre tarde, não guardo dinheiro à toa. Não penso no que deveria ou não fazer, nem sigo ordens de comando. Não faço boas ações. Não leio muito nem escrevo todo dia. Não li tudo o que gostaria nem gostei de tudo o que li. Não consigo acordar muito tarde. Não sinto falta de tudo, não sou tão carente.

Não gosto que riam de mim. Não rio externamente dos outros. Rio de mim mesma, interna e externamente, a todo o tempo. Não acredito em deus. Não acredito no sucesso, na plenitude humana, na razão. Não dou carona. Não sou só acertos nem erro sempre. Não prezo a idéia do respeito entre os seres vivos. Eles nem vivos sabem se estão e eu tenho fome. Não gosto de frutas muito doces. Não estou esperando que me entendam tão metafórica que nem tão ao certo entendo.

Não dedico amor ao abstrato. Não dou crédito ao concreto. Não tenho pilares de lucidez nem vestígios de insanidade. Não leio tudo o que pedem e sou avessa a gramáticas. Não sou assexuada, não sou mal-amada. Não tenho crenças cegas, não vi nada que me faça acreditar. Não sonho coisas boas sempre, não sonho coisas ruins nunca.

Julia Pastore

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