Chamava-se Kid.
Não era alto, mas forte, proporcional, vestia-se impecavelmente, tinha bigodes pretos excitantes e rescendia a perfume de pitanga.
Espirituoso, corado como a terra, reprodutor nato, situado financeiramente, falado e badalado em salões de cabelereiro, salões de embaixadas e clubes de classe A.
A bela! Alta, como marmórea estátua em frente de palácios, e dona de uns lábios sadios como alimento perpétuo de judeus. Os olhos, vastos olhos, límpidos, translúcidos e desintoxicados.
Ancas de dar parada cardíaca, cintura de se enlaçaer e não largar mais. Cabelos pretos, descaídos, cheirosos, ondulosos.
Chamava-se Jórgia.
Distração dela: fazer-se amar.
Fazer-se amar, dele, a distração.
Ver o ser amante contorcer-se, rastejar, clamar, ulular, morrer-se em dores.
E a força subindo neles, como os índios sentiam quando provavam carne dos gueireios vencidos.
Viram-se e se dispuseram. Kid e Jórgia, terrível, sinistro par. E começou o esporte.
Deram tudo de si. Charme, perfumes, requebros. Cada encontro de amor fazia címbalos soares dos Brasis à Tailândia. E o amor, mesmo, o puro amor, a flor branquinha, não havia neles.
Viajaram para longe um do outro, tranqüilamente. Quando se rencontravam, fundiam-se amalgamavam-se.
Três anos durou o embate. Até que surgiu Verbena, doce e meiga como favo. Até que surgiu Guilherme, frango inerme para um caldo.
Foram-se para sempre, com um respeito enorme um pelo outro. Respeito profissional, diremos. Ela, Jórgia. Ele, Kid. Sem ressentimentos.
Áureo Mello