O Príncipe Sapo

Fim de festa. Descabelada e embriagada, Dorothy está mais pra lá do que pra cá, sendo que o “pra cᔠseria a companhia de suas amigas, que preferiram fugir para outra balada a trocar as fraldas de uma bêbada, enquanto o “pra lá”... Bem, deixemos que ela descubra.

— Oh, céus! — diz Dorothy, abrindo os olhos. — Onde estou?

— Na sarjeta.

— Sarjeta? Quem disse isso?

— Eu.

— Eu quem?

— Eu aqui, gata. Olha um pouco mais pra baixo.

Ela olha e vê um sapo. Não se trata de um sapo comum, tipo livro de Biologia, mas de um sapão com chapéu coco e gravata borboleta, tipo desenho animado, que ri maroto e fuma uma espécie de cachimbo jamaicano.

— Credo! — diz Dorothy, escandalizada. — Você é um sapo.

— Isso é uma acusação?

— Não, mas... O que está fazendo aqui?

— Eu é que pergunto, né? Se reparar bem, verá que esse território é meu.

— Mas você está usando chapéu. E fumando. E falando!

— Oh, perdão. É que na verdade não sou um sapo, não exatamente. Desculpe minha falta de educação e deixe que me apresente: Príncipe Andreyewski Apolônio, muito prazer.

— Príncipe?

— Pelo menos na minha forma original. No momento, como se pode perceber, encontro-me numa situação... digamos... embaraçosa.

— Que situação?

— A sua mãe nunca contou histórias pra você dormir? Estou enfeitiçado, não vê?

— Enfeitiçado? Você está querendo dizer que...

— Sim, sim. É o seu dia de sorte.

— Calma lá, vamos devagar com essa história. Deixa eu ver se entendi direito. Se eu beijar você...

— Bem, não é exatamente um beijo, entende? Os tempos mudaram. Veja a TV: mulher pelada, violência, mulher pelada, guerras, mulher pelada, crise econômica, mulher pelada, corrupção. A época do beijo já era. Agora o buraco é mais embaixo. A propósito, tem um motel na próxima esquina.

— Sei não. Acho que você está querendo me enganar.

— Enganar? Eu? Qualé, gatinha, vai permitir que a chance da sua vida passe pulando e coaxando bem embaixo do seu nariz?

— Mas eu não sou daquelas que só não transam com sapo por não saber qual é o macho.

— Sapo? Que sapo, pô? Não te falei que sou um príncipe? Pense no Brad Pitt, no Tom Cruise, e multiplique por dez.

— Beleza não se põe na mesa. Quero saber o que é que eu ganho com isso.

— Ora o quê! Você será a minha princesa. A minha rainha. Vai se vestir como uma deusa. E tomar banho no champanhe.

— Mesmo?

— Claro, claro. É sangue bom, menina. Pode confiar.

— E quais são minhas garantias?

— Não basta a minha palavra real?

E rumaram os dois para o motel, onde passaram um bom pedaço da madrugada. Ao amanhecer, não sem alguma confusão, Dorothy teve que pagar a conta.

Desnecessário dizer que o sapo não virou príncipe.

Maicon Tenfen

« Voltar