Quando puder sonhar ainda

Impossível curar as feridas da alma em tão pouco tempo.
Maquiou o rosto.Vestiu a calcinha nova. Estreou a saia indiana rebordada. Voltou a colocar aquela blusa transparente e sexy. Calçou as sandálias-botas amarradas até aos joelhos. Que tremiam. Fez uma nuvem de perfume francês e passou duas vezes por dentro. Pregou um sorriso de barca no rosto angustiado. Chegou ao restaurante para o encontro. As mãos trêmulas a fizeram errar a boca. O batom se desmanchou no canto. Falava sem parar de um tudo que era nada. Ele a observava, quieto e atento.
Quando ela derramou o vinho caro na toalha de damasco, ajudou-a a secá-la, entregou-lhe o guardanapo e falou:
— Enxugue três estrelas de água e sal que estão escorrendo pelas suas faces, pretas de rímel. Gotas de sangue escorrem de seu coração ferido. — Da próxima vez que vier, coloque band-aids nessa alma empeneirada. Mas somente volte quando acreditar, de fato, que pode sonhar ainda...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

« Voltar