Fotografias

       Relutava em abrir o baú onde guardava as fotografias das diferentes fases de minha vida. Sentia que, se o fizesse, de  certa forma abriria as portas para  os fantasmas que tão bem descansavam naquele lugar. Havia fechado o baú há mais de trinta anos. Para que  mexer no que estava quieto? Uma voz vinha  lá do fundo de mim, falando sobre prudência, mas, na verdade, esta era uma palavra que eu sempre desconhecera.
       Confesso ser um tanto frio nas questões pessoais. Passado é passado. Fico refletindo sobre o que leva as pessoas a remexerem no ontem, como se isso fosse dar vida ao hoje.
       Há  trinta e dois anos resido em Paris, sou casado, tenho dois filhos. Esqueci o passado, integrando-me ao presente e planejando o futuro. Não faço parte da maioria das pessoas que tem mania de saudade e sofre de nostalgias...  
       Não sei como descobriram meu telefone. Vivem me ligando do local onde nasci  e passei minha juventude. Por que não me deixam em  paz? Sempre digo a mesma coisa: que me esqueçam, porque, se saí  sem nunca mandar referências, considero uma violação de privacidade terem descoberto o número do telefone e começado esse assédio.
       Voltando ao báu, não sei se o abro. Quando decidi trazer as fotografias, foi para preservar as lembranças, não para mim, mas  para as gerações futuras.
       O cerco acabou por me levar a sentir vontade de rever determinadas pessoas, mas, sinceramente, nem sei se lhes recordo as fisionomias.
       Enfim, abro o baú e um cheiro de mofo impregna o ambiente. Jogo as fotos no chão. Minha cabeça parece explodir. Tudo se embaralha: pessoas, datas, locais.
       No entanto, uma foto me atrai como um ímã. É Eliana, presença que embalara meus sonhos juvenis. Parece me fitar, sorrindo. Por um   longo  período, mantenho aquela foto em minhas mãos, querendo, a todo custo, reter o seu  sorriso. Quanta saudade!
       Desperto do devaneio com os olhos marejados. Impetuosamente, jogo  todas as fotos de volta ao  baú.
       Sou muito feliz, só não entendo por que o passado cisma em me importunar, se dou valor apenas ao  presente.

Belvedere Bruno

« Voltar