NA TERRA DAS OVELHAS E DAS MAÇÃS

Havia uma terra repleta de ovelhas e maçãs falantes e puras. Herança avoenga, guardavam em sua memória, como dogma, que "uma só maçã podre estragar a caixa toda" e estigmatizavam de "ovelha negra da família" quem contrariasse por atos ou idéias a conduta social vigente. Um dia, não se sabe quem, ou quais, angariando votos para um cargo público qualquer, colocou em sua plataforma política que (ao contrário do determinado pela "ciência dos homens") todas as maçãs podres poderiam ser recuperadas, e inventou até que essas foram palavras de Deus, omiti-das dos textos pelas ditaduras e tiranias que se multiplicaram neste mundo...

Ninguém se perguntou por quê, com que interesse, de repente, organizações, sob o título de "direitos humanos", acorreram aquela terra, e discursavam: "Se os humanos estão devidamente protegidos, os animais defendidos dos humanos maus, as plantas (algumas...) cercadas de cuidados,..., por que não as frutas? (e depois os insetos, é claro, que, os humanos, como dissemos, já estão devidamente protegidos.)"

Os defensores da tese dos direitos da maçãs podres ganharam as eleições, e, a partir daí, todo o conhecimento e trabalho foram canalizados para encontrar uma forma de recuperá-las, custasse o que custasse. As sãs ficaram completamente abandonadas, desde o nascimento até o fim. "São sãs, não precisam de ajuda." — argumentavam os novos donos do poder.

Um dia, uma pobre requereu ajuda governamental, devidamente comprovando sua condição de miserabilidade. Não só teve seu pedido indeferido, como foi ridicularizada pela mídia, por haver confundido "d" com "b", tendo alguns articulistas até percebido aí uma certa tendência subversiva, na simetria das letras, "um giro de 180º" — insinuaram.

Tosaram-se, como se fossem dedos da mão de um ladrão fundamentalista, de uma só vez, as questões relativas à Saúde, Educação, Agricultura, ..., e só deixaram o dedo mínimo: Recuperação: prioridade absoluta para a recuperação das podres! Entrementes, foi-lhes garantido o di-reito de ir e vir entre as sãs, e até com algumas compensações, visto que, se podres eram, "alguém" teria culpa disso... (Quem sabe, toda a sociedade?). Outrossim, destruíram-se, em rito sumário, moral e se preciso fosse fisicamente, todas as ovelhas que se comportassem de forma "politicamente incorreta": as ovelhas negras. Jamais algum ente ousou perguntar o por quê de tudo isso. Hoje em dia, quando se passa por lá, não se sente mais o perfume que vinha das macieiras frondosas, nem se divisa suas cores, o verde, o vermelho, o amarelo. O capim tomou conta do lugar. Resta apenas uma família — que domina "tudo" — de ovelhas branquinhas, a balir sem eco nos corações... Exceto no meu, que me lembro...

Diniz Felix dos Santos

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