VÊNUS EM ÁRIES

Belo rapaz, doce como um punhal. Fere com delicadeza e precisão. Sem perder o (p)rumo investe em todos os lados. Depois de tantas, chegou minha vez. Dirijo-me a seu quarto com a volúpia de quem se atira de um penhasco. Reconheço todas as armadilhas: incenso, música new age, uma garrafa de saquê, um livro de filosofia propositalmente à vista. A iluminação teatral dos spots cria uma área de luz onde ele se aloja confortavelmente. Seus músculos parecem latejar. O olhar convida sem margem para desistências. Ele me estende as mãos: me conduz à cama e me dá uma bebida, pra relaxar talvez. Nem precisa, estou entregue, sem reservas.

Enlouquecer as pessoas - é sua especialidade. Todos sabem, mas no fundo de suas pacatas vidas, desejam uma chance de evasão, mesmo que o preço seja caro. Alguns dias de absoluta satisfação por anos de inoperância afetiva. No meu caso não temo nada. Não estou em busca do meu prazer. Quero inverter o jogo, o prazer será antes, dele. Vou enredá-lo. Me farei tão necessária, que ao pensar que me conquista, desejará me proteger, tal a fragilidade que aparentarei. Serei sua filha, sua irmã caçula, sua aprendiz. Seu orgulho não se sentirá ameaçado por minha ingenuidade construída e desejará ser meu mestre. Habilmente, aprenderei de modo lento, saboreando cada etapa desta teia que arquiteto.

A bebida acabou, suas mãos já desabotoam minha blusa e me acariciam sem suspeitarem que em breve estarão seguramente algemadas.

Gilberto Gouma

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