TEMPESTADE
Ana quer estar sozinha.
Começa a perceber o tempo. – Envelheci! . Assustou-se, ao se olhar no espelho, pela primeira vez. \"Nunca fiz nada de interessante!\".
O celular toca. É o Fernando. Ela desliga. \" Babaca, nunca assume nada\". O celular toca. É a sua mãe. \" Preciso visitá-la, tô em falta com ela.\". Ela desliga. O celular toca. É o chefe. \" Que saco, já disse que vou apresentar o projeto na semana que vem!\". Ela desliga. O celular toca. É trote. Antes de desligar: – Vai tomá no cu, desocupado!!
Vai à piscina. Quando está cansada e chateada, gosta de nadar um pouco. \" Que dia chato!\", pensou.
Em um certo momento, Ana senti uma presença. Tem um leve tremor no corpo todo. Quer sair da piscina. Nada até à escada e instintivamente, olha para trás. Vê algo fantástico. Uma parte da água da piscina se desprende do todo, moldando-se no corpo de uma homem forte. Ana está paralisada, não consegue se mover.
O corpo translúcido já formado, vai ao seu encontro. Ela nem consegue falar, mas com o olhar, pede para que não a machuque. O ser estranho começa a tocá-la. O medo de antes, se transforma em prazer. Ana se lembra de que quando era mais jovem, gostava de ficar sentada no bidê horas, sentindo a água o chuveirinho invadir seu sexo. \" Meu Deus! O quê tá acontecendo? Estou louca?\"
Olha para o céu, percebe que ocorre uma tempestade densa. A água da chuva se mistura com a da piscina. Ana para de pensar, a palavra e as idéias foram substituídas por um grito selvagem.
Pela primeira vez, perde o controle de si mesma.
Acorda com o sol batendo no rosto. Percebe que a cama e seus cabelos estão encharcados. Confusa, não se lembra de como chegou ao seu quarto. Decide terminar logo o projeto, visitar sua mãe e fazer as pazes com Fernando.
Quer, novamente, retomar o controle de sua vida.
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No dia 22 de outubro de 1989, houve uma grande tempestade que assustou muitas pessoas. Porém, não houve nenhuma enchente, deslizamento de terra e morte.
Muitos disseram que a chuva forte parecia uma ilusão. Até hoje, ninguém consegue explicar o que aconteceu realmente, naquele dia.
Eduardo Oliveira Freire