O MISTÉRIO NO PORÃO

05h 30m – residência do senhor Otávio de Almeida:
Pontualmente às 5h e 30m o suspeito acordou, usou o banheiro e dirigiu-se à cozinha. Pegou a velha bandeja de madeira e colocou duas canecas de louça, o café, o leite, uma cestinha de vime com rosquinhas de pinga e frutas. Pôs, também, um vasinho com algumas margaridas colhidas em seu jardim. Levou ainda o jornal do dia. Desceu a escada externa que leva ao porão da casa, em passos calmos e tranqüilos. Voltou, como de costume, duas horas após e saiu para o trabalho.
Percebe-se a felicidade em seu rosto e tranqüilidade na alma que ele transmite após estas estranhas visitas ao porão, o que fez com que várias pessoas nos tenham pedido uma investigação.

07/05/2000 – 08h 30m – Vou entrar e investigar o porão. Dizem que esse estranho hábito do senhor Otávio começou no dia seguinte à morte de sua esposa, há dois anos.
Chego até a escada que leva ao porão. São poucos os degraus até a verdade escondida. A porta do porão é fechada apenas por uma tranca de madeira. Abro a porta e entro, meus olhos se acostumam ao escuro após alguns minutos. O porão tem um ar gélido e sombrio, chão de terra batida. Consigo ver apenas uma mesa pequena e duas cadeiras. Vejo ao lado da mesa uma porta trancada a cadeado.
Ouço então um barulho sobre o assoalho e corro para fora com medo de ser pego em meu ilícito ato de invasão.
Chego ao carro em tempo de ver o velho cachorro saindo da casa. Resolvo voltar amanhã.

08/05/2000 – 05h 30m – Cheguei no horário de costume e aguardei pacientemente que o suspeito descesse as escadas do porão e fui até lá.
Para minha surpresa, a porta estava aberta, lá dentro pude ver o vulto do senhor Otávio e de uma outra pessoa sentada na cadeira ao lado. Ele lia as notícias do dia, parava algumas vezes para sorrir, eu ouvia então, o som de um beijo que ele dava no vulto. Resolvi então entrar e acabar logo com o sofrimento daquela criatura, presa há tanto tempo no velho porão.
Empurrei a porta com força e adentrei ao recinto, o suspeito deu um grito e vi quando o vulto ao seu lado caiu ao chão. Aproximei-me e vi a patética figura inerte no chão, não acreditava no que via. O senhor Otávio então, me mandou sair de sua propriedade e de sua intimidade.
Saí rápido, com a prisioneira como prova.

Solicito liberação da prova e entrega ao seu proprietário após o encerramento do caso.

Anexos ao relatório – um manequim feminino com peruca loira e roupa composta de: calcinha e sutiã de renda vermelha, cinta-liga, meia sete oitavos da mesma cor e sapato de salto alto.

Anésio da Silva – investigador de polícia

Vera Vilela

« Voltar