O escritor
Havia um quê na história, que nunca consegui decifrar.
Um tanto de lenda, um tanto de mito, aquela mania
de misturar o real e o imaginário....
Diante de suas narrativas, sentia-me vazia de vida. Enriqueceria o seu dia-a-dia com a força da imaginação de escritor? Assim pensando, conseguia me conformar com aquela eterna sensação de viver em câmera lenta. Como tudo podia ser tão efervescente na vida daquele homem?
Por vezes, os fatos soavam até inverossímeis, mas sentia que, para ele, era vital aquela dose extra de adrenalina que o processo de criação lhe proporcionava. Narrando, ele acreditava, e aí estava a força dos fatos. Sentia que não havia mentira, ao menos da forma convencional. Criando, roteirizava a vida, o que o tornava um ser incomum. Fazia-me sentir novos sabores, ver matizes inimaginados, aspirar aromas inebriantes. Mas onde estaria a realidade naquele mundo que parecia delirante e, nem por isso, menos encantador?
Subitamente, me vi fora de prumo. Na mente, um emaranhado de idéias desconexas. Tateando, busquei bússolas...
O ponto final foi inserido no contexto por conta da minha total falta de habilidade em separar o mundo real daquele mundo colorido de faz-de-conta. Não tinha, como o escritor, o dom de viver em universos paralelos. Disse-lhe adeus. Um adeus sem cores e fantasias.
Voltei, então, a viver em câmera lenta.
Belvedere Bruno