Vozes

No meio da noite.

Que foi querido, preocupada pergunta, sente alguma coisa? Pelas paredes procura o interruptor, escuto vozes, até encontrá-lo na maior agonia. Vozes, coração, vozes...

Calma, o suor o encharca, deve ser a pressão. Toma seu remédio, disse massageando-lhe a saboneteira, quer um chazinho?Sobre o canto direito da boca a saliva lentamente escorre. Não precisa se preocupar, contém o desespero, enxuga os lábios, vou assistir qualquer coisa. Como que por acalmá-la, depois volto... apaga as luzes.

Ela então se vira e dorme.

Sozinho, ecoa entre os cômodos o silêncio, vozes combinados ao ronco da esposa e o filme na tv. Resolve se levantar, encostar a porta. Quando...

É hoje...

Nem bem amanhece, o carpete manchado de café e um cadáver, de bruços, no sofá. A filha caçula presencia tudo. O pai com uma agulha de tricô no ouvido, espetada, e a blusinha da boneca entre os dedos da mãe.

Abraçando-a, bigadu, mamãe!, agradece, entusiasmada, a blusinha prometida semanas atrás.

Diego Ramires

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