RESTABELEÇO A PAZ

               Restabeleço a paz.

               Os caminhos são determinados, brancos, não há desvios intransponíveis. As pedras nas encostas não me assustam, a convicção me fortalece e a coragem me arrasta. Demônios existem, ansiosos e sinistros, tentam retorcer a estrada retilínea. Ora, isto é impossível: sou conduzido pela energia luminosa que sempre me orientou. Nada tenho a temer, sou duro e forte. Luto contra tudo e contra todos, venço e hei de continuar deste jeito até o fim. Aí, estarei redimido não só dos pecados assumidos mas também das atrocidades atiradas contra mim. Já percorri muito chão, por cima de pau e ferro, sem medo, até chegar ao último lugar. Sei que ainda há distância a vencer, mas não me desengano. A esperança é verde, quase superlota o vazio da minha cabeça.
               Ninguém duvide: restabelço a paz. Quanto maior o sofrimento, mais rígido me transformo.

Everaldo Moreira Véras

Do livro: As feridas não sangram mais, Edições Serev, 2009, PE

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