Dois estranhos sob o plenilúneo
Respiravam profundamente. Os tecidos, muito lentamente, se preenchiam de invisível aroma. Tudo crescia, inchava. Os humores do corpo escapavam dos poros...
De lá do Alto, o plenilúneo descia e redourava as peles ao ar livre.
Riquíssimos de desejo, saciados de gozo... Intermitentes canções que se evolavam a a partir de murmúrios e, num crescente, se tornavam uníssonas.
De um lado, o som grave, em arrancos fortes, de gozo do macho. De outro, a dulcíssima canção do verdadeiro orgasmo feminino...
Dois corpos que sabiam usar o corpo do outro. O próprio corpo. Nenhum perdia tempo em esperar que o outro lutasse para satisfazer quem pedia.
Maduros-frutas prontas depois da solene fecundação...
Agora, o vazio pleno.
O relaxamento porejado de suor perfumado, a lassidão deliciosa. Os sumos a escorregar pelas pernas distendiadas...
Cada um,depois de mil afagos de reconhecimento e gratidão pela doação de um saber milenar, instintivo, mas altruísta e egocentrado, simultaneamente, recolheu a poeirinha de estrelas que ficou no ar, e a jogou dentro da própria alma. E ainda salpicou um pouco sobre a pessoa a seu lado
– ambos se olhando com olhos de re/conhecimento.
Somente então, cada qual virou-se para o outro lado e adormeceu para dormir um sono especialíssimo. Amanhã perguntariam ao doador da energia intensa, qual era o seu nome...
Clevane Pessoa
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