O ESTUPRADOR DO PARQUE X

Bela loira.
Dezoito anos, pele alva, cabelos dourados, lisos e longos.
Corpo mignon e escultural, olhos azuis, boca carnuda, esbanjando sensualidade.
Coxas grossas, pernas torneadas.
Lindíssimo espécime feminino!
Morta.
Olhos arregalados, o sangue escorrendo da boca carnuda... e da garganta.
Nua. Estuprada.
Um corte profundo na garganta.
O cadáver, envolto num lençol branco, jogado no matagal do parque X.

***

Bela morena.
Olhos negros, cabelos curtos e negros, boca sensual.
Vinte anos, universitária.
Corpo cheio, porém com curvas estonteantes.
Seios grandes e firmes.
Morta.
Nua. Estuprada.
A garganta cortada, o sangue descendo, viscoso.
O cadáver, envolto num lençol branco, jogado no matagal do parque X.

***

O homem tinha quase dois metros de altura.
Magro, taciturno, trinta anos, mãos grandes, andar desengonçado, pele clara e com um olhar inexpressivo e maquiavélico.
Cicatriz em forma de cruz, no queixo.
Tatuagem (desenho de uma tesoura) nas costas, do lado direito.
Trabalhava como vigilante de uma grande empresa. Não precisava, mas gostava do serviço, pois sofria de insônia e pesadelos. O serviço era uma espécie de
terapia.
Naquele domingo, às 11h, desceu a escadaria do porão fétido.
Lá embaixo, sob a parca iluminação, avistou a garota, nua, deitada de costas num colchão de solteiro, amordaçada, as mãos e os pés presos por cordas.
Ruiva e gordinha, porém com um corpo curvilíneo e apetitoso. Aqueles pêlos pubianos! UAU! Eram divinais!
Sorriu, sadicamente, ao ver as lágrimas de pavor.
Tão linda! Tão excitantemente apavorada!
Aqueles olhos... expressavam o mais profundo de todos os horrores!!!
Sentiu mais uma vez o desejo brotar... dentro do corpo e da alma.

***

O garoto acabara de completar doze anos.
Magro e pequeno para a idade.
Caçava passarinhos, com estilingue, no matagal do parque X.
Domingo, 13h10min, tarde ensolarada.
Sempre caçava passarinhos com os amigos Pedro e Rui, mas eles não puderam vir, hoje.
Decidiu, então, explorar o parque sozinho. Uma aventura que contaria para os amigos, mais tarde. Tinha coragem, sim senhor. Eles logo saberiam disso.
Andando distraidamente, nem percebeu que passou dos limites seguros do matagal.
Quando deu por si, estava numa área desconhecida, perto do riacho.
Nunca havia ido tão longe, antes.
Temeroso, já ia retornar quando...
Ouviu o barulho do motor de um carro.
Logo em seguida, um Fiat Palio verde parou naquela estrada de terra batida, a vinte metros do riacho.
Curioso, escondeu-se atrás de uma moita e ficou de olho.
Estava a cinqüenta metros do Fiat.
Viu um cara alto sair do carro e retirar alguma coisa do porta-malas.
Atento, não pôde deixar de observar o homem arrastar um fardo, envolto num lençol branco, para o matagal. Havia uma mancha vermelha no lençol.
Parecia... um ser humano???
"Meu Deus! E-Ele... ele...", o garoto pensou.
Seu pequeno cérebro, num átimo de segundo, logo deduziu que...
Nervoso, recuou dois passos e tropeçou numa raiz.
Caiu sobre alguns galhos secos.
CRACK!!!
O homem ouviu o barulho. Soltou o fardo, ergueu a cabeça e deu uma olhada ao redor.
O garoto, apavorado, sem raciocinar direito, começou a correr.
A princípio, o homem ficou sem saber o que fazer.
Depois, ao descobrir que havia uma testemunha, decidiu correr atrás.
E a perseguição teve seu início.

***

O velho teria seus sessenta e poucos anos.
Barba por fazer, corpo magro, cabelos brancos e ralos.
Naquele domingo, acompanhado de Caroço, seu inseparável vira-latas, decidiu dar uma olhada nas armadilhas que preparara, no matagal do parque X. Viúvo, os filhos criados, caçar era seu maior passatempo, algo que lhe dava alegria.
- Vamos, Caroço!
O cachorro, esquelético e amarronzado, saltitou na frente.
Tinha esperanças de pegar uma paca ou mesmo uma mucura, para fazer um saboroso ensopado.
Andando lentamente, segurando a espingarda de chumbinho, entrou no matagal.

***

O garoto correu, chorando, em fuga, no denso matagal.
Em pânico!!! Apavorado!!! Pensava nos pais, nos amigos, e pediu a Deus que o salvasse, que o livrasse daquele assassino.
Corria, pulando raízes, galhos, buracos, troncos, pedras.
O estilingue ficou para trás, em algum lugar.
Ele não olhava diretamente para trás; dava, em vez disso, discretas olhadelas. Nada via.
Corria, suas pequenas pernas movimentando-se, ágeis, no piso acidentado.
De repente, tropeçou e caiu.
Surpreso, esticou os braços, absorvendo a queda, mas ralou o cotovelo no piso endurecido.
- Droga! - vociferou, em estado de tensão.
A dor foi pequena, porém o perturbou de leve.
Sem perder tempo e controlando a dor, levantou-se.
Voltou a correr, dando as rápidas olhadelas para trás, quando...
Bateu de frente num homem.

***

O velho tomou um susto, ao sentir o garoto esbarrar nele.
- Ei! - gritou, enfurecido.
- Socorro! - o garoto gritava apavorado - Socorro!
O garoto já ia correr, mas o velho o segurou pelos braços:
- O que houve, garoto?
Chorando, o menino tentava desenvencilhar-se:
- O homem! É um assassino! Quer me matar! P-Preciso fugir! Por favor, me solte!
Mas o velho ainda o segurava:
- O que disse, filho?
Caroço, o vira-lata, latia, olhando para o fundo do mato.
- O assassino! Lá vem ele. Preciso fugir! Por favor...
Quando velho ia soltar o garoto, o homem apareceu, correndo.

***

Parecia uma cena de livro de Stephen King.
Grotesca... fantasmagórica... assustadora.
Lá estavam eles...
Um velho de sessenta anos, de cabelos ralos, portando sua espingarda de chumbinho.
Um velho solitário, que entrara no parque X, alegre, para caçar pacas.
Um garoto de doze anos, baixo para a idade.
Um garoto que entrara no parque X para caçar passarinhos e mostrar aos amigos o quanto era valente.
Um esquelético vira-latas.
Um animal saltitante, que acompanhava seu dono, fielmente.
Uma ruiva gordinha, porém com curvas sensuais e estonteantes.
Ruiva que apenas quis ajudar aquele simpático homem com o braço engessado.
Só isso.
Todos mortos.
Mortos e deixados no matagal do parque X.
Os tiros de pistola foram ouvidos longe, reverberando por entre as árvores.
Numa bela tarde de domingo.
As moscas já sobrevoavam os quatro cadáveres.
Foram encontrados, uma hora depois, por dois homens.

***

Uma hora depois de terem sido encontrados os corpos, havia muita gente no local dos crimes.
O legista, chamado Alfredo, examinava os corpos. Outro policial batia fotos. Mais alguns vasculhavam a área. Alguns curiosos observavam, a uma certa
distância, atrás da faixa colocada pela polícia.
O investigador Luís Carlos conversava com seu colega, Marcos, no matagal do parque X, diante dos cadáveres:
- Esse cara já matou cinco mulheres, nos últimos seis meses. Infelizmente, acrescentou na lista um velho e uma criança.
- Horrível! - Marcos proferiu, sem esconder o descontentamento - Um cara desses deveria ser morto lentamente, aos pouquinhos...
- Concordo. Alguém já avisou os pais do garoto? - Luís Carlos perguntou.
- Moram aqui perto. - Marcos respondeu - A Michele já seguiu para a casa dele.
- O velho tinha parentes?
- Dois filhos, que moram em outro bairro. O velho morava só, tendo apenas o cachorro como companhia. O Tércio está lá, conversando com os vizinhos. Ligou
há pouco.
- E a garota?
- Ainda desconhecida. Ninguém sabe o nome, idade e de onde veio. Mas breve saberemos.
- E aí, doutor? - Luís Carlos quis saber - Descobriu alguma coisa?
O legista se levantou e disse:
- Sim.
Mostrou um pequeno recipiente de plástico.
- O que é isso? - Luís Carlos indagou.
- Sangue.
- Sangue?
- Isso mesmo. Sangue, pele e carne humanos.
- Do assassino?
- Pode ser que sim. Pode ser que não. Há 90% de chance de ser do assassino.
- Huuummm. Bastante animador.
- O garoto reagiu.
- Como assim?
- Lutou com o assassino. Partiu pra cima dele.
- E?
- Deve tê-lo socado e arranhado. Algo não previsto pelo criminoso. Ele jamais poderia imaginar que o garoto, em vez de correr e fugir, fosse atacá-lo. Havia marcas nas unhas do garoto.
- Se esse sangue for do criminoso...
- O exame de DNA fará o resto. Prendê-lo, então, será uma questão de tempo.
- Pode reconstituir o que deve ter acontecido aqui, nesta tarde?
O legista suspirou e disse:
- O assassino atirou primeiro no velho. Dois tiros. Não deu tempo ao velho de puxar o gatilho da velha espingarda. Confiante, deve ter se virado para atirar no cachorro, que latia e avançava para cima dele. Mais dois tiros. Quando ia atirar no garoto, foi atacado de surpresa. O garoto, sabe-se lá o motivo, partiu para cima do psicopata. Houve uma luta ferrenha, porém o assassino venceu. Claro. Não poderia ser diferente. Deu o primeiro tiro no garoto, à queima-roupa, mas deve ter sido arranhado no rosto. Um corte feio. E deu mais um tiro, com o garoto já caído, como se fosse sua assinatura ou um hábito. As lascas de sangue, pele e carne nas unhas do garoto, o posicionamento dos corpos, as marcas dos projéteis, o sangue no chão, indicam que foi assim que o negócio se deu. Pelo menos vamos torcer para que isso tenha ocorrido.
- Bom garoto. Que descanse em paz.
- O assassino deve ter visto o garoto, quando este o observava carregar o cadáver da garota. Correu atrás do garoto e encontrou o velho e o cachorro. E, para não deixar testemunhas, matou todos. Depois de matar, conduziu a garota já morta e a deixou ali, do lado do velho, do garoto e do cachorro. É um cara frio e muito confiante. É a quinta garota que encontramos morta no matagal do parque X, que é extenso. No entanto, é a primeira vítima deixada no lado norte. Assim como fez com as outras, deve ter estuprado essa várias vezes. Nesse domingo, decidiu cortar sua garganta e livrar-se do corpo.
- Ele sempre corta a garganta das meninas. - Marcos comentou, irado - Filho da puta!!!
- O cara usa camisinha para realizar os estupros. - o legista completou - E provavelmente estava com luvas. Sujeito esperto.
- Doido, psicopata, mas nem tanto. E ele deu mole, ao escolher essa área do parque X, que é bastante freqüentada por caçadores. Se jogasse os corpos no
lado sul do parque, como fizera com as outras, não teria sido visto. Decidiu mudar o local e se deu mal.
- Foram encontradas marcas de pneus de carro, há trezentos metros, perto do riacho. - Marcos revelou - E aqui, marcas de sapatos, diferentes das do velho e do garoto.
- Esqueça os sapatos. Descubra a que tipo de carro as marcas pertenciam. Mande perguntar, ao longo da BR próxima ao parque, quem viu um carro passar, por volta das duas horas da tarde. Qualquer carro. No domingo o movimento de carros é pequeno e não será difícil encontrar quem tenha visto o carro certo. Anote as informações. Se possível com a descrição do motorista. Com certeza alguém deve ter visto alguma coisa. O assassino deve morar nas imediações. Pelo menos espero que sim. Dessa vez pegaremos esse miserável. As pistas deixadas, nesses crimes, foram excepcionais.
- O carro deve ter sido roubado. Ele já roubou outros carros, lembra?, quando deixou os corpos das outras garotas.
- Tudo bem. Mas vamos investigar assim mesmo. É o jeito.
- O ferimento. - legista completou - O ferimento é a chave para desvendar esse mistério. Até então ele nunca havia sido ferido.
- Um vacilo do assassino, com certeza. Marcos, acione o disque-denúncia. Divulgue no rádio, jornal e TV o seguinte: qualquer pessoa que observar um homem ferido no rosto, conhecido ou não, seja amigo, parente, vizinho ou colega de trabalho, que ligue para o número do disque-denúncia. Coletaremos o sangue dos suspeitos e faremos uma comparação com o que temos. Se os suspeitos tiverem carro, melhor ainda. Investigaremos a vida deles. Não iremos efetuar prisões. Seguiremos todos, sem exceção, 24 horas, até descobrirmos algo. Informe que é o caso do Estuprador do parque X.
- Ok.
A tarde chegava ao fim.

***

O sangue coletado era do tipo A positivo e não pertencia ao velho, nem ao garoto e nem à ruiva.
Os pneus eram, essencialmente, de carros da marca Fiat.
Um dos frentistas (rapaz observador) do posto de gasolina, localizado na BR, há cerca de 1 km do local dos crimes, disse ter visto um Fiat Palio verde passar
na frente do posto, vindo da direção do parque X, na fatídica tarde de domingo.
Foi o único carro da Fiat que passou na BR, naquela tarde.
Descreveu parcialmente o motorista. Uma descrição razoável e positiva.
Um comerciante de meia idade, cujo comércio ficava a cem metros do posto, também viu o Fiat Palio verde.
Deu uma descrição sofrível do motorista. Tudo bem. Era melhor do que nada.
Carro este encontrado abandonado, segunda-feira, numa rua deserta, na zona sul da cidade. O carro certo. Com várias impressões digitais, provavelmente
do dono.
Houve muitas ligações para o disque-denúncia.
Tirando os malditos trotes, vários suspeitos, com ferimentos no rosto, foram catalogados pela polícia. Alguns comparecerem e doaram a amostra do sangue.
O investigador Luís Carlos, com base na descrição do frentista e do comerciante, decidiu seguir seis deles.
Seis homens cujo sangue era do tipo A positivo.
Os policiais entraram em ação. Mais de trinta foram mobilizados.
Agora, seria uma questão de paciência e sorte, para pegar o estuprador, antes que voltasse a atacar.

***

Sexta-feira, dezenove dias depois dos acontecimentos do domingo.
Estacionou o Vectra azul naquela praça, por volta das onze horas de uma manhã de sol.
Estava com o braço direito engessado, seguro por uma tipóia. No olho esquerdo, um curativo.
Saiu do carro, levando, no braço esquerdo, sete livros grossos.
Deixou o carro destrancado e com os vidros levantados.
Carregando os livros, sentou-se num dos bancos da praça.
Era uma praça bonita, enfeitada por pequenas árvores.
Sentado naquele banco de cimento, pôde observar a área. Viu na sua frente, as casas pomposas, de dois pavimentos e muros altos. Do lado direito, um ginásio de esportes. Lá atrás, um campo de futebol e um parquinho. Do lado esquerdo, mais casas.
Não havia ninguém nas imediações, àquela hora do dia.
Mas sabia que os alunos que freqüentavam o colégio, localizado na próxima quadra, breve iriam passar por ali.
Poucos alunos, de classe média, na faixa dos dez aos dezesseis anos.
Deixou os livros no banco e pegou um deles. Fingiu lê-lo.
Dez minutos depois, os alunos começaram a passar.
Havia realizado dois reconhecimentos, dias atrás, e sabia que ela sempre passava ali, nesse horário.
Sozinha. Distraída. Grácil.
E não deu outra.
Oh, ali estava ela, uma bela mulata, não mais que dezesseis aninhos, os cabelos crespos e curtos, aquele corpo monumental desfilando na rua, carregando os livros nos braços delicados. Teria 1,70m, no mínimo. As curvas se destacavam, bem como as coxas.
Um monumento de carne e pecado!
Excitado, rapidamente pôs seu plano em andamento.
Levantou-se, com os livros no braço esquerdo, e andou até o Vectra. Simulou ter dificuldade para abrir o porta-malas, enquanto a garota se aproximava.
- Por favor, pode me ajudar? - disse, sorrindo, para a mulata.
"Como era gostosa! Nossa! Um pedaço de mau caminho!", pensou, disfarçando a excitação. O sorriso amistoso permanecia em seus lábios.
- Claro, senhor. - ela disse, retribuindo o sorriso. Usava blusa escolar e calça jeans.
O perfume eletrizante o inebriava, naquele instante.
A garota segurou os livros grossos, sem desconfiar de nada. Afinal, o que poderia fazer um homem sorridente, simpático e com o braço engessado?
Ele abriu a tampa do porta-malas e esperou que ela depositasse os livros no fundo.
Quando a garota abaixou-se para deixar os livros, ele agiu.
Foram duas fortes pancadas com o gesso na cabeça dela, por trás, fazendo-a tombar sobre o porta-malas. Soltou apenas um "uuurrrfff!" baixo e agudo.
Rapidamente, ele pegou aquele par de pernas sensuais e o impulsionou para dentro do porta-malas.
Fechou o porta-malas, com os livros e a garota dentro, e deu a volta, entrando no banco da frente.
Respirou fundo, segurando o volante, e notou que não houve testemunhas. Ninguém viu absolutamente nada.
"Ótimo. Tudo saiu conforme meus planos."
Ligou a ignição do Vectra, colocou a primeira marcha, apertou o acelerador e saiu da praça, lentamente, para não despertar suspeitas.
Não notou o fusca lilás, os vidros com 100% de fumê, parado na frente do ginásio.
Era meio-dia.

***

Chegou na casa uma hora depois.
Casa grande, de dois pavimentos, com sótão e porão, construída no início do século vinte, e herdada de seus pais falecidos. Seu pai, que o diabo o tenha! Morreu tarde, o maldito! Morava só, pois não tinha irmãos.
Do lado esquerdo da casa, um campo de futebol. Do lado direito, um armazém abandonado. Na frente, o imenso terreno de uma das filiais da empresa responsável pela transmissão de energia elétrica da cidade. Ali via-se cercas de arame farpado, gramados bem aparados, torres de transmissão, reatores, motores, painéis, fios, etc.
Ao longo da rua, mansões históricas, sem nenhum tipo de movimento ou barulho.
O lugar ideal para morar, pois o bairro era nobre e calmo.
Manobrou o Vectra para a garagem. Fechou o portão, utilizando o controle remoto.
Não tinha carro, mas não precisava comprar. Roubá-los era bem melhor.
Saiu e deu uma olhada na garota. Estava viva.
"Menos mau. Te quero bem viva, gatinha."
Com movimentos simétricos, retirou a tipóia e o gesso do braço direito. Deixou a tipóia e o gesso no banco de trás do Vectra, para futuras ações. Massageou
o braço, para retomar a circulação.
Fora a coceira enjoada, que o incomodaria por alguns dias, logo o braço estaria em perfeitas condições.
Retirou a mulata do porta-malas. Carregou-a nos braços (notou que saía sangue da cabeça dela, mas nada que fosse grave) e entrou na casa, por uma porta interna.
Atravessou a sala e, na sala de estar, deixou a garota no piso de ladrilho.
Destrancou e abriu o enorme alçapão.
Conduziu a garota porão abaixo, descendo os degraus com cuidado. Ligou a luz.
O porão era espaçoso e lotado de bugigangas, como: baú, enceradeira, latas de tinta, ferramentas, cordas, rede, estante de madeira, parafusos, cadeiras, mesa, colchão de solteiro, roupas, sacos de pano, boneco, garfos, panelas, etc. Havia teias de aranha em todos os cantos e o fedor de coisa velha era insuportável.
Deitou-a no sujo e velho colchão de solteiro e retirou sua roupa, lentamente.
Ao vê-la nua, os seios firmes e empinados, a pele achocolatada, a barriga simétrica e os pêlos púbicos e divinais, soltou um assobio:
"Nossa! Essa garota é um verdadeiro tesão! Realmente um espetáculo de fêmea! Gostei."
Não poderia deixar de desfrutar daquele corpo.
Agora!!! Sim, sim!!! Não havia tempo a perder.
Excitado, retirou a camisa, com movimentos ansiosos, e deixou a pistola em cima da mesa. Já ia abrir o zíper da calça quando ouviu um barulho.
Um estrondo! Lá em cima.
Surpreso, pegou a pistola e subiu os degraus, lentamente, olhando para todos os lados.
Despontou na sala de estar. Seguiu para a sala.
Viu a enorme pedra no piso de ladrilho. Os vidros da janela quebrados.
Correu para a janela.
E foi aí que viu a multidão lá fora.
Levou um susto!!!

***

Policiais.
Dezenas deles.
Armados. Vigilantes.
Sedentos de sangue!
Contou pelo menos oito viaturas.
Sem citar os curiosos, imbecis que se aglomeravam no terreno da empresa, ávidos pela desgraça alheia.
Um dos policiais, ao vê-lo, gritou, utilizando um alto-falante:
- Atenção! Mário Alves Kirdt! Você está cercado!
Encostou-se na parede, sem saber o que fazer.
"Eles descobriram tudo!", pensou, nervoso.
Mas não estava com medo. A loucura não lhe permitia ter medo. Sabia que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Devia ter desconfiado, no momento em que foi por eles chamado, na semana passada. Só tremeu um pouco, quando o policial foi até a empresa onde trabalhava como vigilante, procurando por ele. Depois, ao saber do que se tratava, ficou calmo.
Na delegacia, não lhe fizeram nenhum tipo de pergunta. Simplesmente, pediram que desse uma amostra do seu sangue. Só isso. Alegaram que era rotina investigativa, tendo em vista os últimos ataques do estuprador do parque X. Não. Ele não era suspeito. Não seria interrogado e muito menos preso. Não devia se preocupar, pois estavam coletando o sangue de pelo menos oitenta homens. Rotina.
E ele, mesmo tenso, deu seu sangue. Deu seu bendito sangue.
Não quis saber como obtiveram seu nome. Não teve coragem de perguntar. Talvez por causa do garoto. O garoto que o atacara, no matagal. Maldito! Com certeza os policiais acharam amostras do seu sangue no local. Um erro tosco. Bem, mas como iria imaginar que aquele garoto magricela iria atacá-lo?
Devia ter parado com os ataques. Devia ter se controlado, dado um tempo, até as coisas esfriarem. Idiota! Afinal, a polícia não tinha provas. Era apenas mais um suspeito. E seu sangue era do tipo comum. Não poderiam incriminá-lo com base no seu tipo sanguíneo. Se tivesse parado, eles voltariam à estaca zero.
Mas não! A tara (a tara desgraçada!) que sentia era mais forte. Incontrolável! O dominava de modo compulsivo. Simplesmente não poderia mais parar! Não dava mesmo, porra! Em conseqüência, não parou. E deu no que deu.
Se foi seguido, não percebeu. E eles o seguiram, com certeza. Esse ataque provava isso. O ataque final. A prova irrefutável de que foi vigiado esse tempo todo. Um serviço bem feito, por parte dos policiais.
Merda! A sorte o abandonara. Dias terríveis o esperavam.
- Mário! Entregue-se! - o policial continuava - Não há como fugir, parceiro. A casa caiu!
O que deveria fazer? O que fazer?
Matar ou morrer! Não importava. A morte não seria pior do que os pesadelos que tinha todas as noites. Terríveis pesadelos! Via seu pai, um monstro, que lhe batia com o chicote e lhe trancava no porão, quando criança. O bicho-papão! O pai morto, que lhe metia medo. Medo que foi superando aos poucos. E, de todos os medos, lhe restou a tara. A vontade de gozar, subjugando. O poder do gozo e do sofrimento!
A garota!
Não poderia perder essa chance. Seria o último estupro. O último, porra! Teria que desfrutar daquele corpo, para matar sua ira, sua sede de sexo.
E foda-se o resto!
Saiu da sala e desceu até o porão, correndo.
A mulata se mexia, já despertando.
Sem perder tempo, retirou a calça e a cueca.
Ficou nu, completamente excitado, diante da garota também nua.
- Não se mexa, sua puta! - gritou, enlouquecido.
Ela o viu e começou a chorar.
- Não! Não! N-Não... - foi só o que conseguiu dizer, baixinho, apavorada.
Deitou-se por cima daquele corpo trêmulo.
Beijou-a no pescoço.
Deliciou-se com o cheiro do perfume dela.
Beijou aqueles lábios sedosos. Meteu a língua, à força, naquela boca sedutora.
Largou a pistola e meteu os dedos da mão direita lá embaixo, entre suas pernas. Bolinou-a, explorando sua intimidade, enquanto a beijava.
- Você é a melhor de todas! - murmurou, de modo lúbrico - A melhor puta! A melhor!
Chupou os seios. Belos seios! Mamilos deliciosos!
Beijos e carícias. Adorava aquele cheiro.
A garota nada fazia, congelada pelo medo.
Apenas chorava, enojada, sem ter coragem de reagir.
Sentiu vontade de chupá-la. Oh, seria maravilhoso chupar cada curva de sua anatomia, sugar cada gota daquele órgão escultural!
Mas... não tinha tempo. Mas não tinha nenhum tempo, porra!
Afastou, então, as pernas da garota. Era o momento crucial, o ápice de sua tara incontrolável! O paraíso estava logo ali, à espera, pronto para ser consumido! Linda! Gostosa! O pecado da carne!
Quando se preparava para meter, ouviu o primeiro tiro.
Sentiu dor nas costas... em cima da tatuagem.
Ouviu outro tiro!
Também nas costas.
Dois tiros mortais.
Como costumava matar suas vítimas, se não fossem mulheres.
Sentiu uma dor aguda... contínua... excruciante... que começou nas costas e se estendeu por seu corpo. Como agulhas incandescentes, entorpecendo seu raciocínio.
Tentou se mexer, mas não conseguiu.
E muito menos respirar.
O sangue!
O sangue descia por seu corpo. A morte lançava seu manto horripilante! Que bom! Era o fim dos pesadelos. Seu pai-monstro não o incomodaria mais! Morria, lentamente, sem medo. A loucura não lhe permitia ter medo.
Merda! Faltava tão pouco... e logo com a melhor de todas. Mais alguns segundos e ele meteria... gozaria... teria um prazer indescritível...
Era o fim... o fim...
Após minutos de agonia, desabou por cima da garota.
O investigador Luís Carlos desceu os degraus do porão.
- Fim da linha, seu imundo! - gritou, enfurecido.
Atrás dele, Marcos e os outros policiais.
A garota chorava, em estado de choque.
Caso resolvido.

JRM Torres

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