GOSTOSO VENENO

             Eu me lembro de uma boneca de pelúcia... Dessas que vendem em supermercado barato. Acordei, revirei na cama, pau duro. E aquela boneca lá a me encarrar. Parecia que ela queria brincar comigo. Fazia dois meses que eu estava hospedado na casa da prima Nicinha. Estudante, morando de favor e dormindo no quarto da empregada.

             Levantei. Fumei mais um baseado. Passava das duas da madrugada. Muito excitado. Vi que a putinha da boneca estava rindo da minha cara. Tirei o pau para fora e mostrei a ela. A diabinha curtiu. Tava doido... Boca seca... Muito alucinado. Aquela vadia de pano tentava me seduzir, jogava charme para mim.

             Desviei o pensamento. Sou poeta, motoqueiro, professor, dentista... Me deu fome...Muita fome...Arroz com brócolis, pizza, bife sem batata frita...Rimmel, perfume de mulher, shampoo, doce de goiaba, um cadáver na esquina. Nicinha no banho e o sabonete a percorrer seus peitinhos. E a boneca lá de olhos arregalados. Desgraçada, eu pensei.

             Essa filha da puta é macumba da safada da Nicinha. Pois eu vou fuder essa boneca. Olhei no olho dela. Fechei a porta.

             Silêncio na casa.

             Da janela eu percebia as luzes acesas no prédio em frente. Bando de filho da puta. Todos fudendo e eu aqui com pau balançando. Vou gozar nessa boneca. Puxei o short do Flamengo que estava usando, passei cuspe na mão e peguei a boneca.

             — Morre safadinha da noite! Pede por socorro vaquinha do Meier! Implora pro teu macho o que você quiser, porque eu vou gozar na tua cara, reza uma Ave-Maria pro teu homem, porque eu vou te levar no paraíso.

             Senti uma pancada na cabeça.

             Acordei sufocado no hospital, os peitos da prima Nicinha a balançar na minha frente. Ouvi por alto, que alguém atirou uma pedra na janela do quarto, pensaram que eu estava estuprando a empregada. Me pegaram de pau na mão.

             Nicinha me perguntou o que eu queria que levasse para o hospital. Nem tive dúvidas;

             — Traz a sua boneca, preciso me desculpar com ela.

             — Tá vendo Doutor, eu disse que a pancada foi forte.

             O médico concordou com  Nicinha e os dois saíram da sala.

Francisco Malta

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