A Assassina no Cartaz do Shopping

Apaixonou-se pela moça do cartaz. Encontravam-se sempre das 10 da manhã às 10 da noite, ou seja, no período de funcionamento do shopping. Viviam um amor calmo, sem cobranças. Ela, estampada na enorme parede da entrada principal, estava sempre escandalosamente linda. Ele, por vezes alegre, por vezes tristes, mas sempre apaixonado. Os espasmos de tristeza vinham por conta de uma ponta de ciúmes, quando via que alguns homens paravam diante dela e teciam comentários.  Como trabalhava numa loja bem em frente ao cartaz, passava longas horas trocando olhares com ela e comentando com um amigo:  – Viu como ela me olha? É sempre assim.  – Você está louco? Ela não está te olhando. Olha para qualquer um que esteja olhando para ela. É uma questão de ângulo. Isso é apenas um cartaz!  – Não. Não é. Compreendo sua inveja por ela não olhar para você. Que acha de eu chamá-la para jantar hoje? – Isso. Perfeito. Se ela for, eu te dou todo meu salário deste mês. – Mas não sei se devo. – Deve. Pelo amor de Deus, faça isso! Chame-a para ir a sua casa, para jantar, para beber e depois ir para a cama com você. Vai ser incrível!   – Não. Não chamarei. Você é está sendo grosseiro. Sinto que ainda não é o momento.  Assim se passavam os românticos dias do lunático, até que o cartaz sumiu. O amigo, que sempre chegava mais cedo para o trabalho, aguardou o apaixonado, feliz por poder lhe dar a péssima notícia. Ele chegou, cumprimentou a todos sem olhar para a loja do cartaz. O amigo não podia esperar pelo momento da decepção. Mas antes que pudesse dizer algo o outro falou: – Estive pensando e decidi terminar o namoro. Acho que já não somos tão felizes como no início. Vou dizer isso a ela hoje. – Não, você não vai dizer. A fotografia não está mais aí. Vê? Era somente uma fotografia e foi retirada.  Sem ouvir o que o outro tinha dito, falou:  – Pobre moça, deve ter percebido o que aconteceria e partiu. Melhor assim. Poupa-nos do desgaste de uma despedida. Pouco tempo depois surgiu novo banner com a mesma modelo. O amigo temeu pelo pior. E o pior sempre vem. – Você viu como ela me olha? – Que história é essa? Isso é um banner. Um banner. Ela não está te olhando. Ela não está olhando pôrra nenhuma. É apenas uma foto!  – É por isso que as mulheres te desprezam. Você vê nelas apenas uma imagem. Eu identifico nelas o perfume, a poesia, o desejo, a vida. – Ora, você é um maluco! Quê vida? Quê poesia? Isso é uma imagem. Uma imagem! Após uma semana, chega o chefe da loja e dá a notícia da morte por suicídio. O amigo, arrasado, pergunta: – Mas por quê ele fez isso? – Dizem que deixou um bilhete relatando uma desilusão amorosa. A polícia esteve aqui fazendo perguntas e está procurando alguma mulher com quem ele tenha se relacionado recentemente. Você sabe de alguma coisa? O amigo olha para o cartaz diante da loja e diz: – Não, não sei de nada. Mas creio que não vão encontrá-la. – Por quê você diz isso?  – Sei lá, apenas uma suspeita.  Olha novamente o cartaz e pensa: Muito estranho esse jeito que ela me olha. A partir de então, seguindo os passos do amigo morto, começou a namorar a moça do cartaz. Mas tomava muito cuidado, pois, além de linda, ela lhe parecia fria e calculista. Talvez fosse uma assassina profissional. Um mês se passou antes que fosse encontrado morto. A polícia não encontrou motivo aparente para o suicídio. Mas o chefe alertou para a possibilidade de algum amor não correspondido. A vida é realmente bela!

Osias Canuto

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