TOC I
— Do almoxarifado? Gerônimo, por favor?
— Almoxarifado falando. Sem contato com Gerônimo.
— Por quê?
— Gerônimo não está.
— Onde ele foi?
— Ele não foi, ele não foi criado.
— Como assim?
— A mãe dele ainda não deu três batidinhas na mesa. A sala está cheia de gente. Como é sabido Gerônimo só nasce na segunda batida de três de um mão fechada em nó, em cima de uma mesa de madeira. Escura, de preferência. Sem muitos objetos. E justamente sem ninguém olhando, que é pra não nascer mirrado. Daqui dá pra ver, a mãe não consegue bater na mesa, nem se concentrar na conversa na sala. Tesa, aguarda a chance. Parece que vai demorar. O ar está tão suspenso, que se Gerônimo nascesse agora, nascia mudo.
— Tem Gerônimo de pai?
— Não.
— E como fica o meu instante-próximo?
— Coloca em déjà-vu.
Ana Peluso