Sorte, a dos Pássaros
 
         (Como no cinema que, além de ser possível cronometrar-se os sentimentos, a vida, consegue-se alterar-lhes o tempo, traduzindo, fora de foco, a idéia Passado-Futuro pelo simples recurso de apertar-se um botão acelerando ou retardando as seqüências, avançarei em direção ao momento em que me encontro diante de uma janela, limítrofe a um espelho.

       É quando alcanço que a incandescência das luzes e a escuridão são iguais, a mesma coisa: ambas cegam.
 
 
 
 

       Se necessário, quem isto ler poderá, à guisa de animar as palavras, correr até o fim do texto e voltar a este ponto. Assim, não só movimentará a narrativa como terá conferido às imagens e à minha expressão uma forma de fluir e um significado que, amiúde, não consigo emprestar-lhes. Ou talvez as anulem, deixando-as cair. Secas. Qual folhas. Como pomagens excessivamente maduras. Passadas. Como nada.  Mero desperdício de contrastá-las com a palidez de florestas dizimadas e comprimidas. Sem seiva. Sem alma).
 

       Sorte, a dos pássaros, que não escrevem.

      Voam.

José P. di Cavalcanti Jr.
 

 

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