O MANEQUIM
Lá estava ele, robusto,
num provável regime de engorda. Comia, dormia, gastava, fazia quase
tudo pelo computador. Depois que descobrira-o, sua vida tornou-se uma nova
aventura, a aventura dos internautas, o mundo aos seus pés, a vida
ao alcance de tudo que sempre sonhou, o fim da solidão.
Aos 57 anos, aposentado,
juiz desembargador. Homem sisudo, cuidadoso, já com suas manias
e defeitos aflorados. Pantufas aos pés, cigarro, café sem
cafeína, bolos e biscoitos, sobretudo, e muitos livros espalhados
pelo chão, livros a respeito de tudo, absolutamente tudo.
Um apartamento de aposentado.
Um tabuleiro de xadrez, uma TV 29", um vizinho também aposentado,
uma faxineira donzela e reprimida, um baú cheio de recordações,
a geladeira entupida de colesterol e uma barriga que crescia a olhos vistos.
Cabelos acizentados, voz máscula e atraente, profundas marcas de
um homem que passou pela vida incólume, sem mácula e sem
defeitos aparentes e públicos.
Estão aí os
ingredientes de um internauta na meia idade, com fortes tendências
à menopausa cerebral, e com altos índices de sedentarismo.
O que mais um homem pode desejar na vida?
Sim, claro, um lugar ao
céu que há muito não era mais de brigadeiro. Um céu
sempre cinzento, num apartamento cinzento e com um amigo que joga xadrez,
também cinzento e embolorado. Você sabe do que estou falando,
um prédio no centro de qualquer metrópole, um apartamento
com elevador enguiçado, ma janela imensa que dá para um buraco
de rua, entupido de camelôs e pedintes, escadas sujas, um prédio
que fora o baluarte da sociedade dos anos 60, hoje, uma decadência.
Ele tinha tudo ao seu alcance,
tudo mesmo. Tudo que um homem poderia ter estava ali aos seus pés.
Todas as bugigangas possíveis e imagináveis. Era só
descer e pagar a décima parte por qualquer produto, contrabandeado,
evidente. Mas ele não apreciava aquela gente. Preferia comprar tudo
pela Internet. Tudo mesmo. Até comida pronta, pela tela do monitor,
comida de todos os tipos, comida e comida.
Aquelas pessoas lá
embaixo davam-lhe ojeriza, nojo, asco, pavor, medo. E o que mais? Não
sei, qualquer coisa que significasse afastamento, distância, vômito,
mal-estar.
Pois bem, Dr. Venâncio
foi um homem exemplar. Tão exemplar que nem sequer pensou em se
casar. Nunca teve um caso amoroso por mais do que 30 minutos. Nunca tivera
a sensação de acordar ao lado de uma mulher, a não
ser sua mãe quando vinha visitá-lo, o que, naqueles tempos,
era algo difícil. A velha caíra da escada e não podia
mais andar. Dr. Venâncio nunca soube o que era a deliciosa sensação
de um orgasmo a dois, jamais acariciara uma mulher nua, parecia que tinha
nascido em uma prisão de segurança máxima, sem qualquer
contato com sexo, a não ser o seu.
Dr. Venâncio era um
homem acima de qualquer suspeita. Conduta ilibada, vestimenta ilibada,
os gestos ilibados. Tudo nele cheirava ética, moral e pijamas amanhecidos,
cobertos de chocolate quente, derramados pelo sono inerte de horas diante
do computador.
Dr. Venâncio tinha apenas um vício: jogar xadrez, ditosamente,
meticulosamnte, exaustivamente, com seu vizinho, também aposentado,
não juiz, nem advogado, um médico também solteiro,
com costumes bem diferentes de Venâncio. Morgado era o exemplo oposto
do desembargador. Um homem viril, másculo, sempre alerta com as
mulheres, disposto a qualquer aventura, perdulário de preservativos,
mestre nos carinhos e afagos, um homem atual, moderno, com o estetoscópio
ligado ao seu próprio aparelho genital. Um homem com a sensibilidade
do pulsar das asas de uma abelha e a volúpia de uma girafa no cio.
Este era Morgado, o homem que sabia seduzir, que tinha a experiência
da conquista.
Formavam uma dupla distinta, mas harmoniosa. Entendiam-se, apenas,
no xadrez.
Morgado gostava das ruas, das gentes que iam e vinham, dos vendedores,
dos gritos perdidos na multidão, das formigas que caminhavam por
entre as sarjetas, dos moleques que atravessavam os semáforos com
coisas miúdas, roubadas de alguma velha desdentada e, principalmente,
das mulheres que faziam ponto no quarteirão oposto.
Venâncio, o desembargador, um homem calado, com as manias do
mundo trancafiadas em seu apartamento, um homem com os óculos tão
profundos quantos suas olheiras, um homem eficaz, estupidamente eficaz.
Morgado, o homem do mundo, o homem das coisas do mundo.
O xadrez era o elo que os unia, a ponte com a qual comunicavam-se,
o processo silencioso que fazia suas mãos locomoverem-se em busca
da vitória. Os dois precisavam daquilo, os dois viviam parte de
suas vidas para o xadrez e para aquela companhia lúgubre, calada,
estática, que um fazia ao outro.
O jogo era uma atitude filosófica diante da vida. Dominar o
rei, destrui-lo a qualquer preço, engendrar urdir as melhores estratégias,
sucumbir à inteligência do oponente, silenciar quando o tempo
não mais lhe é favorável. Todo o imaginário
de suas vidas estava contido naquele tabuleiro, era o sonho que se esvaía
lentamente, quando as luzes da cidade chegavam com a eletricidade e os
homens e as mulheres encontravam seus corpos no anonimato do prazer.
Mas Venâncio descobrira a Internet. Como foi dito, tudo fazia
através dela. Comprava e falava. Conhecia gente, discutia e pesquisava.
Uma noite precisou encontrar uma loja de departamentos. Você sabe,
aquelas imensas lojas que vendem de tudo e nos deixam com redonda sensação
de que estamos no interior de um mundo moderno, tão moderno que
é virtual. Coisas novas, dando-nos a certeza de que o futuro chegara
com a velocidade dos nossos próprios desejos. Uma loja virtual.
Precisava ele de uma calça e uma camisa novas. Onde encontrar?
Pesquisou até cansar e enfim, por volta das 4 da manhã eis
que surge à sua frente a loja e um fato estranho e curioso.
Venâncio tinha à sua disposição centenas
de opções, modelos, cores, marcas, tamanhos. Roupas
para todos os gostos, épocas, gêneros e breguices. Era uma
loja imensa, eletrônica, funcionando 24 horas ao dia, sem porteiro,
sem segurança, sem crianças correndo, sem senhoras mastigando
a dentadura, sem nada. Tudo limpo, arrumado, organizado. Apenas um provedor,
alguém do outro lado, roncando às 4 da manhã e sem
dar a mínima para as suas vontades. Provavelmente mão-de-obra
barata à espera de um chamado, quem sabe da sua namorada ou de algum
disque sexo.
O juiz ficou deslumbrado. Parecia estar em uma loja americana, sofisticadíssima.
Monstruosa, medonhamente grande e excitante.
Às 4 da manhã? Um homem com seus respeitados 57 anos,
vestido com o tradicional pijama de bolinhas e as pantufas de jacaré?
Era ele, ali mesmo, maravilhado com a tecnologia mais sofisticada
do mundo? Era ele, naquela cadeira confortável, esperando para encontrar
sua calça e sua camisa? Sim, era ele, e não um simples ser
humano, não um adolescente qualquer em busca de sexo virtual, de
bundas e tetas chapadas na tela de um monitor. Não senhor, era ele,
o paladino da Internet, o juiz que deixara a toga para viver na toca.
Mas, como que por um encanto do destino, surge à sua frente
algo que o deixa estarrecido, uma coisa de que jamais poderia esperar,
sim, isso mesmo, aquilo de que nunca teve coragem de fazer, fez, ali, apaixonar-se,
deslumbrar-se, afogar-se.
Era a coisa mais linda do mundo. Aquele vestido, aquelas curvas, aquela
cor, tudo era perfeito, tudo era único. Aquele manequim houvera
feito nele o milagre da transfiguração. Um babão,
um solitário desembargador babão. E por quem? Por um manequim.
Um manequim!! Ficou estupefato, dolorosamente paralisado. O tesão
tomou conta do seu corpo. Parecia flutuar, o coração desembestou.
Paralisou a imagem, copiou-a, recortou-a e depois colou-a no editor de
fotografia. Aquilo era real? Um ser inerte mas real. O manequim da sua
vida estava ao seu alcance. Um homem só, silencioso para o mundo,
conhecera a felicidade na calada da noite.
Abaixo dos seus 15 andares, só se ouvem gritos e os estampidos
dos tiros cruzando os becos e atingindo corpos desconhecidos, crivados
de dor e solidão, mas ele, num picar de olhos, tendo em mãos
os teclados, viu-se terrivelmente apaixonado, instantaneamente apaixonado
por um Manequim.
Ali estava ele adorando um ser inanimado, morto, um manequim, Mas não
era um manequim qualquer, Era o manequim da sua vida, Não tardou
a amanhecer, Tudo ficara claro, o dia resplandecera e os raios penetravam
pelas frestas da cortina da sala, Morgado viria para tomar o café
às 9, já estava atrasado, mas ele sempre atrasa, nunca foi
pontual, Um homem com sede de mulheres não pode ser pontual, nunca,
Venâncio estava petrificado com a imagem do manequim, verdadeiramente
apaixonado, um homem refém dos seus sentimentos, precisava contar
ao Morgado o que tinha acontecido, mas Morgado não entenderia, jamais
alguém poderia entender o que se passara com Venâncio, mas
era necessário que o amigo soubesse de que ele, Venâncio,
estava apaixonado, então quando o amigo entrou no apartamento, Venâncio
disparou a dizer de sua enorme felicidade, Morgado imediatamente percebera
o que estava acontecendo e questionou, você está apaixonado?
Sim, estou, eu a conheci hoje de madrugada, amor à primeira vista,
você pode acreditar nisso? Claro que posso, amor pelo computador,
mas é lógico que eu posso acreditar, partindo de você
eu posso, você vai me dizer que trepou com a sua paixão logo
de cara, trocaram carícias pelo computador, um tocando a tela do
outro, aposto até que chegaram ao orgasmo, e sem contar o chocolate
que você deve ter derramado quando começou a se excitar, não
é mesmo? Ah, e ela, provavelmente, tenha dito a você as coisas
mais lindas via e-mail, não foi? Não diga isso, foi o amor,
eu a descobri, preciso encontrá-la pessoalmente, eu estou enlouquecendo,
é o êxtase que me deixou atônito, estou nas nuvens,
nunca senti algo assim, com tal ímpeto, parece que o camelo que
existia em mim deu lugar ao chimpanzé mais furioso, comedor de bananas,
um chimpanzé pronto para saltar de picadeiro em picadeiro, é
um vulcão dentro de mim, uma avalancha de emoções
e sensações.
Morgado estava desconfiado, mas acreditava, os olhos do amigo estavam
esbugalhados, eram os olhos de um homem entregue pela paixão, as
mãos trêmulas, ele nunca ousara sequer ter às mãos
um simples cigarro apagado, quanto mais uma mulher inteira, ou mesmo virtual,
Morgado não entendia o que estava acontecendo, mas admitia que algo
muito estranho e até maravilhoso parecia tomar conta de Venâncio,
Puxa, disse Morgado, uma paixão dessa, nem mesmo eu que tive milhares
nos meus braços, precisamos conhecê-la, vou ajudá-lo
a conquistar essa coisa da natureza, esse amor maluco, Venâncio negou-se,
recalcitrante, afinal, o amigo era o exemplo cabal da eficiência
sexual, mesmo com 53 anos de idade, Não, ainda não, deixe
que eu vá só, preciso fazer os primeiros contatos, depois
você irá conhecê-la, que tal? Claro, claro, como você
quiser.... como você quiser...
Venâncio precisava ir pessoalmente àquela loja, ver, tocar,
apreciar aquele manequim, Vestiu sua melhor roupa, apesar de precisar de
roupas novas, desceu o elevador e ganhou aquelas ruas de que tinha asco
mortal, pegou o taxi e foi à loja que já não era mais
virtual e sim real, Entrou, procurou o departamento, falou com a balconista,
e enfim deparou-se com o manequim, O Manequim de verdade, o Manequim com
aquele mesmo vestido vermelho, cobrindo seu corpo, suas curvas, o Manequim
que lhe deu o sentido à sua vida.
O juiz quis saber o preço do manequim, a vendedora disse que
não podia vendê-lo, ele insistiu, tanto que a insistência
tornara-se inconveniência, Pediu então que mantivesse o Manequim
no mesmo lugar com o mesmo vestido, a vendedora, uma mulher com seus 44
anos bem vividos não entendeu e continuava a não entender,
Venâncio, por seu turno, fazia questão de que o Manequim e
o vestido não fossem tirados dali, mas a vendedora argumentava que
isso seria impossível, contra as regras do bom relacionamento comercial,
contra o capitalismo, contra a relação de compra e venda,
contra tudo que diz respeito às leis de mercado, contra, enfim,
o desejo de consumir de deixar-se consumir, contra a sociedade de consumo
de quem ela era a legítima representante, vestida com o uniforme
do magazine e esperando fazer a felicidade e o endividamento de algumas
pessoas naquele dia.
Decepcionado no primeiro momento, o desembargador foi embora, mas parou
por alguns minutos na saída do departamento e ali ficou a contemplar
seu objeto de desejo, ficou ali, como que pasmado com a descoberta, com
o encontro mais importante de sua vida, ali permanecera até que
foi alertado por um outro vendedor e então tomou o rumo de casa.
Voltou no dia seguinte, apreciando o monumento colocado no mesmo lugar,
parado, imóvel, como uma virgem grega esculpida em sua homenagem,
como uma relíquia da Idade Média, como a Língua de
Santo Antônio, como as vestes de Jesus Cristo, contemplando, admirando
sem parar, aproximou-se a vendedora e Venâncio, então, pediu
para falar com gerente, queria alugar o Manequim e o vestido, mantendo-o
ali no mesmo lugar, estaria disposto até a assinar um termo de compromisso,
lavrado em cartório, especialista que era em documentos e burocracia
judicial, mas o gerente também negara seu pedido, de certo o gerente
aconselhara o juiz a procurar uma casa especializada em bonecos e manequins
para ali comprar o que desejasse para o seu trabalho ou, quem sabe, sua
taras pessoais, tudo estava indo mal, mas a vendedora, uma mulher aparentemente
culta, de boa estatura, lábios carnudos, cabelos curtos como os
de Beth Davis, com os olhos verdes e uma cor morena, percebeu algo diferente
no jeito do desembargador, percebeu que sua voz a agravada sobremaneira,
pediu então ao juiz que voltasse no dia seguinte, pois ela tentaria
ajeitar as coisas, mas sua verdadeira intenção era a de vê-lo
novamente.
Feito isso, Venâncio voltou uma dúzia de vezes ao magazine,
e ela, a vendedora, cujo nome soava estranho mas delicado, Verônica,
a santa que cobrira o rosto, Verônica, uma mulher também solteira,
carente, com manias de limpeza, generosa e gostosa, um corpo escultural
atrás daqueles 44 anos, uma juventude escondida, alguns sonhos velados,
outros sepultados... Uma mulher pronta para o amor, o amor maduro, o sexo
maduro, a vertigens das alturas emocionais... Verônica e Venâncio,
que tal?
Mas Venâncio estava decidido a ficar com o Manequim, só
tinha olhos para ele, ou para ela, não sei como definir aquele objeto
de desejo, um verdadeiro objeto de desejo, Nada poderia demovê-lo
de suas intenções, continuou insistindo para que o Manequim
permanecesse no mesmo lugar, Verônica sugeriu que ele o comprasse
e o levasse para casa, teria seu desejo ao alcance de suas mãos,
enquanto durasse aquela paixão, paixão, por sinal, não
revelada pelo juiz mas intencionalmente visível pela balconista
fogosa, Mas como fazer isso se o pedido tinha sido negado pelo gerente?
Morgado excitava-se ao saber que o amigo saía todas as tardes
para encontrar-se com o seu novo e único amor, Venâncio ainda
escondia a verdade, mas não sabia por quanto tempo poderia fazê-lo,
no entanto, as coisas seriam descobertas caso não agisse rapidamente,
porém, não poderia levar o Manequim para dentro de seu apartamento,
nem poderia continuar afetando a vida profissional de Verônica, a
essa altura, já caída pelo desembargador das pantufas de
jacaré.
Um impasse passional, essa era a realidade, O que fazer?
Pois bem, Verônica decidiu agir, adiou a decisão o quanto
pôde e quanto mais o tempo passava, mas e mais ela tornava-se refém
daquele homem de 57 anos, digamos, mais e mais ela se apaixonava por aquela
voz e aquela doce insegurança de um senhor de meia-idade, que trazia
nos olhos o espanto por estar apaixonado por um Manequim, sem contar uma
leve queda por homens que carregavam barrigas avantajadas, um desejo escondido
de quem sempre gostara de ver os homens mais velhos da família desfilando
com suas barrigas no verão.
Um dia, Morgado insistiu tanto que Venâncio não teve escapatória,
levou-o consigo à loja e lá encontraram-se com Verônica,
certa estava, ao conhecê-la, de que ela era o grande amor escondido
do amigo, mas mal sabia que escondia algo o nobre aposentado federal, o
segredo de um Manequim, o segredo de uma vida inteira debruçada
sobre aquele corpo sem voz, sem calor, apenas um corpo gelado e que servia
para decorar os ambientes impessoais de uma loja de departamentos, apenas
isso, uma Manequim que não servia para nada e que podia ser transportado
de uma lado para outro... Nada de mais em apaixonar-se por um Manequim,
um Manequim que fora descoberto pela Internet, isso parece tão normal,
parece corriqueiro mesmo, afinal, os amores perderam o sentido, o toque
não existe, as pessoas se divertem com as imagens, com as fotografias,
com os movimentos de coisa alguma estampada na tela do computador, é
assim mesmo, um Manequim que não tem vida, apenas para Venâncio,
o aposentado que se masturba pensando naquele Manequim pelado, o Manequim
nu...
Imagine a relação sexual de um Manequim com o seu dono!
Morgado ficou excitado ao conhecer Verônica e Verônica
lisonjeada ao saber do amigo de Venâncio, Um triângulo amoroso,
uma nova sensação carnal, uma aventura sem precedentes para
aquela mulher de 44 anos? Não sabemos, o fato é que Venâncio
fez de tudo para transparecer a imagem de que ele e a balconista estavam
de caso, mas Morgado percebeu algo estranho no ar, sim, a forma pela qual
o desembargador olhava para o Manequim, na certa esperando o momento oportuno
de comprar aquele vestido para presenteá-lo à Verônica,
que maravilha! Um verdadeiro amor nascia ali aos olhos de Morgado, um tarado
invertebrado.
Passaram-se dias até que Verônica tomou a coragem de propor
ao Venâncio um encontro, Um encontro? Sussurrou o juiz, Mas como
isso pode ser? Eu, um cliente inútil, que não compra nada,
você uma balconista linda mas que não é capaz de me
vender nada e nós aqui, tentando encontrar uma solução,
mas como posso encontrar-me com você? Verônica estava no seu
limite, queria a todo custo um encontro, queria alguns momentos com aquela
voz macia, aveludada, mas qual seria o argumento? Um encontro com você?
Mas não era bem isso que eu estava esperando... Acalme-se, vou lhe
dar o que você tanto espera... Ela já sabia das intenções
de Venâncio, ele, por sua vez, acalentou a esperança de que
a vendedora o trouxesse o Manequim embrulhado para presente, Verônica
esperava poder reverter a situação, tinha a certeza de que
ao vê-la longe daqueles balcões, sem aquele uniforme verde-caqui,
com as unhas feitas, o vestido com dois palmos acima do joelho mudasse
de idéia rapidamente.
Marcaram o dia e a hora e o local, meio a contragosto, Venâncio
aceitou comerem uma pizza em seu próprio apartamento... O dia chegou,
a hora chegou, a campainha tocou e lá estava ele pronto para o encontro
final, a posse definitiva do que esperara a vida inteira, o fim do sofrimento,
o fim da busca incansável, o fim das torturas masturbatórias,
o fim das noites mal dormidas ao lado de quatro travesseiros moles e sem
qualquer sensibilidade para o seu ronco desmesurado.
Mas... a surpresa....
CRIE O SEU FINAL VOCÊ VAI GOSTAR DA EXPERIÊNCIA...
DISCUTA A IMPORTÂNCIA DA INTERNET HOJE VAMOS REFLETIR SOBRE O AMOR NOS TEMPOS URBANOS