Um
amigo, cidadão honrado e trabalhador, casado com uma mulher
mais nova do que ele e com certeza mais bonita do que realmente merecia,
vivia desconfiado que estava sendo traído. Era tão estranho,
que toda vez que passava por uma porta, passava a mão na cabeça.
Aquele gesto corriqueiro, estava ficando até engraçado.
Nas rodas do bar da rua que ficava logo acima da sua casa, era um
disse que me disse de orelha em orelha, sempre que ele chegava. E
quando chegava, o assunto logo passava para futebol. Você viu o gol
do Flamengo? Que beleza de gol! Outro como aquele, só daqui
há uns vinte anos.
Meu amigo não entendia nada daquela conversa, pois o Flamengo
nem havia jogado naquela semana, era tudo muito estranho para ele. E, como
sempre, ria sem saber do que estavam realmente falando.
Até que um dia alguém resolveu contar-lhe toda a verdade.
Contou que o seu vizinho, o morador da casa do lado direito da sua,
estava lhe faltando com o devido respeito. Estava saindo com sua mulher,
toda vez que virava as costas.
A suspeita já existia, só que ele não sabia quem era
o verdadeiro safado. E, para piorar a situação, o referido
cidadão, era um mulato favorecido pela própria natureza,
tinha um físico avantajado, além do que, malhava todos
os dias. Meu amigo era franzino e de poucas palavras.
Naquela situação de vexame, ficou a pensar nos últimos
dias o que iria fazer. Enfrentar o inimigo corpo a corpo não
ia ser uma tarefa fácil, pois a surra era certa além
do que todos iriam ficar sabendo o por quê da pisa.
Assim, foi que teve a idéia de matar o cidadão que
estava saindo com sua mulher. O problema agora era como fazer isto. Se
fosse as vias de fato, com toda certeza iria parar na cadeia e, indo
para a cadeia, poderia ser estuprado.
A situação do meu amigo não era nada confortável.
E, enquanto buscava coragem, resolveu que seria melhor beber até
cair, pensava que assim, poderia esquecer um pouco da amargura em
que se encontrava.
Chegando ao bar, em uma tarde de domingo, sentou-se logo na primeira
mesa que encontrou, pediu uma cerveja, dois copos e começou
a beber. Foi quando o dito-cujo chegou e encarou o coitado, olho no olho.
Meu amigo sem saber o que fazer baixou os olhos em direção
ao copo que estava à sua frente, neste momento, o cidadão
aproximou e vendo que o copo estava intacto e sem medo de ser feliz,
bebeu o líquido de um só gole.
Meu amigo arregalou os olhos. Trêmulo de medo exclamou: além
de dormir com a minha mulher, me fazer de bobo, o desgraçado ainda
toma o meu precioso veneno.