ATEMPORAL

            Acordou às 8:30 de uma manhã de 1888, e juntamente com o café, leu sobre a abolição da escravatura. Quando bateu a porta atrás de si, eram 9:45 de 1911, quando cruzou na rua, uma quantidade grande de italianos que chegavam ao Brasil em busca de um futuro promissor.
            Às 10:30 adentrou uma indústria em 1835, onde se produzia os primeiros produtos em série. Por volta de 12:00, saiu para almoçar, e sentou-se ao lado de um homem que reclamava de verbas para se atravessar os mares e descobrir um continente que poderia chamar-se América, em sua homenagem.
            13:00 comprou um jornal que esclarecia os reais motivos do ataque à Pearl Harbor; amassou o jornal e o depositou num latão de lixo que reciclava papéis, comuns no ano de 2067, apesar de ultrapassados.
            Conversava animadamente, numa esquina, com um rapaz que estava um tanto irado com o fato de outros países aplicarem tantas sanções e explorarem tanto o seu país, a Alemanha. O rapaz parecia nervoso, mas ambos foram interrompidos por um soldado romano que pedia passagem para que o condenado que carregava uma enorme cruz pudesse passar. O condenado caiu, e prontamente, os dois ajudaram-no a levantar, sob protestos do soldado.
            15:38. Sentou-se na praça e ficou olhando aquela massa de pessoas observando um intrépido jovem dizer em alto e bom tom que colocaria aquela máquina mais pesada do que o ar, voando, era só esperarem alguns minutos.
            Perto das 18:00, foi rever alguns amigos no bar, mas chegou tarde, haviam sido capturados por umas pessoas que gritavam: “Liberdade, fraternidade, igualdade”.
            No mesmo bar, assistiu “ao vivo”, pela televisão, a renúncia de um presidente , acusado de corrupção, enquanto ouvia pelo rádio em cima do balcão, no Repórter Esso, que outro presidente havia se suicidado.
            Às 21:45, meio tonto, com alguma cervejas a mais na cabeça, entrou em sua casa que logo o identificou pela retina, sistema criado em 2138, pela Marvinsoft Corporation, e subiu as escadas coloniais rumo ao seus aposentos.
            Tomou um banho e ainda ouviu da mulher uma forte repreensão por sujar a casa toda com o chinelo molhado.
            Preparou-se para dormir, enquanto os americanos bombardeavam o Iraque, e no momento que cobriu-se, caía o muro de Berlim.
            De madrugadinha, enquanto o homem pisava na Lua, roubou o travesseiro da mulher, virou para o canto da parede e roncou.
            Quando acordou, o homem finalmente pisava em Marte...


Márlon Soares

 

 

« Voltar