Por fim só se ouviam os ronqueronques agônicos de um enforcado
e arranhões
pelas paredes do quarto quando tudo começou a girar os objetos amobília
as
lâmpadas o espelho espatifado em trinhentos pedaços espalhados
com violência
por todo o quarto e alguns fragmentos atingindo em cruz a testa de S.King
deixando um risco sanguinolento como ele sempre gostou de ver nos seus
personagens fatalmente atingidos por ato de um algoz misterioso sangue
o
sem sangue da vítima paralisada o pânico o golpe violento
vindo das trevas
motivo o golpe de surpresa
aterrorizante.
S. King começa a refletir sobre seu trabalho o sucesso avassalador
a falta de
tempo para curtir o haras os mais belos cavalos ociosos no pasto o rollis
royce
na garagem criando pó o jato ultraveloz no hangar do pátio
da casa miliardária
como um troféu que só é dado aos grandes vencedores.
Refletir por refletir
depois do aviso tétrico é o que oavisado faz com um comichão
pelo corpo todo.
Os demônios fazem isso também presentear suas vítimas
com uma bela micose.
Preso no quarto e só apavorado com aquele turbifatixzszzsswzss demoníaco
chegado sabe-se lá de onde?! Nem falar! S.King veste o sobretudo
e sai ao
jardim contorna a piscina em S de seu prenome o prenome do grande S.King
o
mago da escritura de terror. Sim Edgar Alan Poe influenciou e muito.
Aquele
alemão que também escrevia contos de terror Offman se não
me engano
também. Outros ajudaram no resultado final além do próprio
talento que se é de
possuir sempre quando se trata da difícil arte de escrever. S.King
cogita seus
cogitos reservados após o aviso que lhe tirou o sono das dez da
manhã.
Mefistófeles. Quem? Quando? Falar comigo!
O primeiro encontro de S.King com Mefistófeles inaugurou uma cena
marcante
no Universo do Terror. Deu pra sentir que nem tudo são
flores esquifes
luzentes e candelabros de prata nesses orbes convulsivos do negrume da
morbidez e do mal. Mefistófeles cobrou de S.King finalidade desiderato
objetivo
em sua obra os desígnios do mal estavam sendo traídos de
alguma forma que
Mefistófeles não queria explicitar de maneira clara
a S.King era necessário que o
autor hollywoodiano descobrisse por si só onde acontecia a traição
ao mestre
dos mestres à instituição negra do medo do pavor ao
transficto o primeiro
baque veio com o coice de aço que lhe pegou em cheio S. King sorriu
com a dor
um sorrir sem causa e não conseguiu identificar o algoz que o atingiu
ou melhor
chegou apenas ver seus longos braços no volante e uns olhos desorbitados
quando algumas costelas rangiam no entretórax torfendido transfixado
por farpas
de torfenferrfendsxwcxsswswswswswscwszwsczwscwzscwscwcswcswcszwsc
sczwscwwwsszswswswsswswswsswswzxwzzwzxwzxwzwzzwzwzwswwzzwzx
as familiares imagens de cemitérios soturnos avalanches de sangue
labirintos hotéis
de horrores atrás de cada porta e banheiras de soda cáustica
borbulhantes
corriam como cenas de um filme um filme de terror diante de seus olhos
atônitos
S. King sendo colhido em cheio por suas próprias alegorias da morte
eternas
variações sobre o mesmo objeto morte a estrubigenta
a furfulhosa a ceifa atroz
que a todos espreita acompanha-nos ao banheiro visita a joalheria freqüenta
as
casas de jogos já foi vista na igreja atrás de pilastras
brancas S.King cede a
Mefistófeles no primeiro encontro o diabo manda (numa reedição
pósultramoderna do Fausto de Goethe) Mefistófeles
cobrar desígnios em sua
obra fins objetivos escopos e S.King rosteia pavoteia assombros de não
poder
cumprir o prometido como era de se esperar o espírito cristão
trazido de berço
sempre atentando contra as sentenças negativas do terror e S.King
balançando
entre entregar-se totalmente as trevas ou apenas bulir ali e sair ileso
como bom
cristão que comete profanações sadias em benefício
da arte no caso a literatura
de terror dessa vez ficamos por aqui diz Mefistófeles pelo
seu Senhor das
Trevas da próxima vez terás mais que três
costelas torfendidas e sumiu
como quando um facho de luz ilumina a sombra escura S.King atado
dos pés
aos braços no leito 777 do sétimo andar do Hospital Angels
Flyn observa uma
réstia de céu escuro e sem estrelas lá fora a dezoito
quadras dali o acidente
encontro com o Senhor das Trevas que o colocou de sósever estarrecido
ali no
próximo livro entre os cortes sombrios e assustadores no quase-quando
dos
personagens que vão tendo fins trágicos uma mensagem ao além
uma mensagem
de fé nas bruxas no negrume estelar do cafinfo do transficto
essa deve ser a
cobrança que lhe foi feita puxar a coisa para o lado de Lucifer
de forma mais
objetiva dar um fim ao texto um fim que seja reinvindicativo que traga
pessoas
novas a compor o time da futuridade diabólica não basta impor
apenas assombro
pavor turgemer S.King tremegeme frio e suarento a cogitar verdades do ser
um
homo faber do terror e de agora estar sendo cobrado daquela maneira
com
violência em atropelado que foi na frente do Supermercado Los Angeles
o
pequeno monstro ao volante dirigiu focou os olhos orbitados transfuziantes
para
ele. S.King quando da pancada deu pra ver sim os braços longos do
pequeno
demônio ao volante e aquele olhar aquele olhar que nunca conseguiu
objetivar
com tanto horror em seus livros mesmo quando atores da velha Hollywood
tinham o dom da transfiguração máxima das expressões
ui uma costela não
assenta mais entre as outras e o corpo truiva dores aaaaauuuuuuiiiiiiiiii
o convite
ao salto da janela do quarto 777 a via Brooklin lá embaixo supermovimentada
quem sabe a queda sobre um ônibus de turismo!? Sempre o inusitado
a cena
saltando sobre o espectador o leitor desavisado e plaft! Sempre como
aconteceu a si próprio S.King aquele negro carro blindado saído
das sombras
e o atingindo em cheio a imagem do "assassino" inocente útil com
o volante às
mãos e aqueles olhos de não ver vendo de não matar
matando de não sofrer
impondo sacrifício S.King vê agora os olhos azuis da enfermeira
novaiorquina
sente no braço a lâmina fina da bandeja de medicamentos que
o médico
meiofrankstein prescreveu tem que tomar tudo comprimido por comprimido
cápsula por cápsula ampola por ampola e ainda tem uns sais
em saquinhos que
são diluídos na água da pia no quarto e devem ser
sugados num pequeno pano
que mais parece uma luva que os médicos de seus livros usam para
retiradas de
órgãos órgãos roubados à revelia de
suas vítimas S.King delira geme transgeme
e a cena viva diante de si os pneus do carro chinfrando o asfalto seco
e áspero
a freiada brusca e sem resultado e o baque seco sobre seu corpo os braços
do
motorista meiotipoacenando para ele S.King depois da pancada de aço
sobre
carne e ossos ainda deu tempo de ver aqueles olhos aqueles olhos que o
engoliam S.King imagina alguma vingança terrena? Algum bêbado
desvairado
no poracaso? Ou a ordem da busca o acontecer já premeditado
que alguém
planejou para si? Que alguém planejou para levar S.King ao caminho
dos
sobre si mesmo como um filme que só reprisa seu fazer de escritor
maldito seu
desfile de figuras fantasmagóricas transitando sobre as retinas
cansadas o porquê
de nunca se chegar a um bom fim? Tudo ser trágico e precipitado
na vida de suas
personagens criadas meio-quase por acidente? S.King ainda agora é
cobrado
pelo transficto que ele... que ele deveria buscar uma finalidade
a sua obra ou
melhor que seus personagens diabólicos atormentados prelecionassem
o mal
em todas as suas formas de modo a reinvindicar mais adeptos
àquele mundo
de horror. S.King não consegue entender onde e como teria errado!?
A pena do
escrever sempre lhe respondeu com maestria singular no composto das
personagens nos espaços dos contos roteiros cinematográficos
e dos romances
frenéticos de horror sobre horror onde ninguém deixaria de
arrepiar os pêlos
seja como fosse diante do desfile tétrico que empreendia usando
todos os
recursos imagéticos aprendidos nas grandes escolas de mágica
suspense e terror
A pena da arte de escrever que lhe brindou com porções generosas
de horrores
agora vem lhe cobrar posturas tomada de posição definições
desígnios impostos
para um só lado aos personagens ou melhor desígnios
impostos para que se
chegue sempre ao mesmo fím que é o fim da adoração
de Lucifer o fim de trazer
as outras almas para compor no grande espaço universal da imaginação
e do
fazer O Mundo de Satanás. S.King não tem mais
como comemorar seus
prêmios nacionais e internacionais pela escritura de terror
os roteiros para
Hollywood os milhõesde livros vendidos no mundo todo. Mefistófeles
cumpre sua
missão e põe a dúvida no caminho de S.King é
você ou somos nós? S.King
geme. Mefistófeles insiste até aqui ganhaste daqui pra
frente começarás a
perder. A enfermeira loura de olhos azuis novaiorquinos alcança
acolher com as
cápsulas e comprimidos que se ajeitam sobre a superfície
emconcha da colher
compondo um belo e colorido quadro. Atrás vem o copo de água.
Água tépida.
sangue que sempre correu com fartura em suas obras. O sangue do inocente
útil e
inútil o sangue dos puros o sangue dos temerosos o sangue dos infantes
o sangue
dos idosos o sangue dos namorados em bosques de prazeres silenciosos o
sangue
dos amargurados o sangue dos que procuravam sossego em hotéis nas
montanhas
o sangue dos que visitam cemitérios seguros. Pensa S.King nas variações
do ser e
do fazer sempre para atormentar os outros suas técnicas maliciosas
de não deixar
ver a mão que apunhala o verme que corrói por dentro toda
a bondade toda
humanidade toda a pureza do que é divino. A enfermeira loura fita
S.King nos
olhos e fecha a janela do quarto 777 e pensa para dentro ainda não
será hoje.
S.King pôde ver os lábios que disseram interiormente aquelas
palavras ainda não
foi desta vez... ainda não será hoje. S.King rosteia
pavores adormecidos.
Estremece: será que ela viu o símbolo cristão gravado
no chaveiro sobre a
mesa!? Era uma gravação em metal de uma pintura impressionista
O Retrato de
Santo Antonio chaveiro comprado em uma loja de artesanato em Miami
Beach
no último verão!? Não deve ter notado! Não
deve! Se tivesse filosofia de sobra
S.King poderia colocar ali nos seus textos. Um bom bocado de semiótica
também
talvez a teoria geral dos signos prestidigita as interpretações/decodificações
embaralhas-as quando quer... seria uma maneira inteligentíssima
de enganar o
diabo pois com um máximo de linguagem e filosofia driblaria as
intenções/desígnios recomendados por satanás
aqui e acolá sem que o mesmo
percebesse a fraude ou o engodo. O curso de teologia fez S.King sempre
escolher símbolos do mal sobre entre os do bem deu-lhe o poder desse
discernimento necessário a expansão de sua literatura no
entanto o diabo insiste
por Mefistófeles em negar que a finalidade de tal literatura estivesse
sendo
cumprida. Mesmo com todos os gritos de horror nos cinemas as almas aflitas
à
meia-noite com os livros abertos sob abajures roxos ainda assim não
estava
dando a devida finalidade social (do diabo) S.King a sua bela e horrenda
obra.
Não bastava evocar Lucifer em seus escritos tinha que isto sim fazer
os leitores
assumirem com muita fé a entidade maligna o transficto como
legítimo senhor do
céu e da terra. Ele sim Lucifer seria o pater geral. Pela
manhã cedo a enfermeira
loura chega e chegam também dois médicos novos para avaliar
o estado de
S.King. Ela mostra o chaveiro sobre a mesa o pequeno chaveiro que traz
a
reprodução metálica de uma pintura impressionista
retratando Santo Antonio...
ainda haviam resquícios do divino em S.King ainda haviam e isso
era
imperdoável a janela do quarto 777 é aberta pelos olhos
azuis novaiorquinos
que parecem sorrir para S.King parecem não sorriem mesmo depois
um dos
pequenos médicos baixos e massudos retira S.King com violência
da cama e o
aproxima da janela pressionando seu rosto para que veja bem o mundo lá
fora o
trânsito as luzes da cidade o outro pequeno médico massudo
pede o bisturi para
os olhos azuis novaiorquinos e finge que vai haver uma grande cirurgia
manipulando outros instrumentos cirúrgicos. S.King rosteia pavores
indescritíveis
de repente de maneira abrupta como sempre fez em sua obra com seu público
de
repente o terror eis que sem o que? nem porquê? é empurrado
janela abaixo
pelos três demônios que o assistiam.
No meio do caminho do fim S.King sente o abraço flácido úmido
frio e viscoso
de Mefistófeles seu último encontro com o dito segundos antes
do choque sobre
o teto de um ônibus de turismo da Flórida Rivers Co.
Jairo B. Pereira